Preliminarmente, atendendo a pedido
Ante nossa ameaça de não mais
noticiar o quebra-pau, digo, as altercações entre os ministros durante o
julgamento da Ação Penal 470, ilustre leitor que muito honra esse Blog nos pede explicitamente
que não o façamos, que continuemos. Então, atendendo a pedido irrecusável, continuaremos,
material é que não há de faltar.
No mérito
Às 18:58 desta segunda-feira, Joaquim Barbosa
concluiu o capítulo II do seu voto para
condenar o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil Henrique Pizzolato por
peculato, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, e os sócios Marcos Valério,
Cristiano Paz e Ramon Hollerbach por corrupção ativa e peculato. E para
absolver o ex-ministro Luiz Gushiken (Concluo que não há provas de que o senhor Luis Gushiken tenha
participado dos fatos relatados pela denúncia. Portanto, o absolvo.)
Ao final da leitura do dia chegou às mãos do presidente Ayres Britto
petição assinada por vários advogados dos réus, no mais legítimo jus esperneandi, afinal, o choro é
livre.
“É a continuidade da
irresignação quanto ao modo segmentado”, avisou Ayres
Britto aos pares.
“É matéria vencida. Não
vemos em que o princípio da ampla defesa seja conspurcado. A cisão entre o juízo
de condenação, colhidos os votos e em seguida a dosimetria, em nada,
absolutamente em nada, conspurca o devido processo legal. Temos precedente.”
E desfiou: “Luiz Fux, in
44.014-AL, proferiu voto fatiadamente, parceladamente; Ação Penal 516, primeiro
o juízo de condenação depois a dosimetria da pena; Carmen Lúcia, relatora na Ação
Penal 396; Collor de Mello, também segmentadamente.”
Disse JB da imprensa e do fatiamento: “É uma polêmica inexistente”. “Me parece falta de assunto”.
Atenção aos navegantes: inversão da ordem de leitura.
Na próxima sessão, quarta feira, JB enfrentará o capítulo
V da denúncia, depois voltará para enfrentar o capítulo IV porque “há uma lógica interna”, disse.
Novo começo de polêmica: a possível distribuição do
voto do relator ao Procurador Geral, logo esfriada: não houve acesso antecipado
ao voto. O envelope permaneceu intocado, asseverou Celso de Mello, sentado ao
lado do procurador.
JB voltou ao tema: “Para clareza e compreensão de todos, a fim de evitar a leitura de 1000
páginas do voto e mais 1.200 do voto do revisor, decidi “en petites parts”.
Comentário do
Blog: “Très, très chic, mes amis.”
Está visto que a assessoria da Corte andou a trabalhar no fim de semana. Arregimentou precedentes para fundamentar o indeferimento da "irresignação" dos advogados quanto ao fatiamento. Vejam o que é o trabalho do advogado. A matéria preclusa, não há recurso previsto, e ainda assim, eles se queixam, peticionam, vão ao Presidente. Não se pode deixar morrer assim de qualquer jeito, advogados vão até o fim e além dele. São mesmo uns teimosos. Uns quixotes? Não, de quixotes aqueles causídicos nada têm. A matéria é outra, perdoem-me a franqueza. Mudemos de assunto, pois.
Após horas de leitura por Joaquim Barbosa,
é impressionante o bom humor do ministro Marco Aurélio no apagar das luzes da
sessão. Queria se manifestar, que constasse em ata sua manifestação em relação
ao trabalho dos advogados, etc., e mais fatiamento: “o fatiamento não tinha a largueza que imaginamos”, “vim para a sessão
para ouvir o revisor” e ele não falou, atalhamos nós, tal a largueza do
voto, ainda, do relator.
Ultrapassado o surpreendente bom humor de Mello, não
podemos deixar de anotar, também, a robustez, (bem disse Marco Aurélio, no dia
da segunda briga, digo, do ofício ou não à OAB) de Joaquim Barbosa, mesmo
acometido de terríveis, dizem, dores nas costas. O pessoal de Paracatu é mesmo
forte, a voz não demonstra sinais de cansaço às 18:55, já noite. Está lá,
firme. Deve mesmo ser barítono. Outros, mais delicados, já estariam a pedir a
essas horas, “meus sais, por favor”.
Allons enfants, de la Patrie, até quarta.
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