terça-feira, 20 de agosto de 2013

Toga justa

Não gostamos de briga. Sabem a máxima da mineirada: dá um boi para não entrar na briga e uma boiada para não sair. Estão pedindo mais detalhes da briga dos ministros. Temos a ala incendiária entre os leitores, adoram ver o circo pegar fogo. Ok, atendendo a pedidos, vai a íntegra do embate. Há aqueles que não estão nem aí para a briga, aqueles que estiverem com a costura do dia adiantada podem conferir pelos vídeos que circulam na internet. Enquanto a briga rolava em plenário e Barroso passava a mão pelo rosto como quem diz: que constrangedor..., um capinha (o serventuário que cuida dos ministros, uma espécie de mordomo), aparecia brincando de enrolar a gravata até que sumiu do vídeo, a gravata. Deve estar acostumado à cena. Logo todos os capinhas acorreram à bancada, pensamos que fossem apartar a briga, nada disso, a sessão fora encerrada inopinadamente pelo presidente e o dever deles, capinhas é puxar a cadeira dos senhores ministros. Deve ser a toga que atrapalha, enfim. Coisas da corte.

Celso de Mello – Os argumentos são ponderáveis. Talvez pudéssemos encerrar essa sessão e retomar na quarta-feira. Poderíamos retomar a partir deste ponto específico para que o tribunal possa dar uma resposta que seja compatível com o entendimento de todos. A mim me parece que isso não retardaria o julgamento, ao contrário, permitiria um momento de reflexão por parte de todos nós. Essa é uma questão delicada.
Barbosa – Eu não acho nada ponderável. Acho que ministro Lewandowski está rediscutindo totalmente o ponto. Esta ponderação... 
Lewandowski – É irrazoável? Eu não estou entendendo...
Barbosa – Vossa Excelência está querendo simplesmente reabrir uma discussão...
Lewandowski – Não, estou querendo fazer Justiça!
Barbosa – Vossa Excelência compôs um voto e agora mudou de ideia.
Lewandowski – Para que servem os embargos?
Barbosa – Não servem para isso, ministro. Para arrependimento. Não servem!
Lewandowski – Então, é melhor não julgarmos mais nada. Se não podemos rever eventuais equívocos praticados, eu sinceramente...
Barbosa – Peça vista em mesa!
Celso de Mello – Eu ponderaria ao eminente presidente, talvez conviesse encerrar trabalhos e vamos retomá-los na quarta-feira começando especificamente por esse ponto. Isso não vai retardar...
Barbosa – Já retardou. Poderíamos ter terminado esse tópico às 15 para cinco horas...
Lewandowski – Mas, presidente, estamos com pressa do quê? Nós queremos fazer Justiça.
Barbosa – Pra fazer nosso trabalho! E não chicana, ministro!
Lewandowski – Vossa Excelência está dizendo que eu estou fazendo chicana? Eu peço que Vossa Excelência se retrate imediatamente.
Barbosa – Eu não vou me retratar, ministro. Ora!
Lewandowski – Vossa Excelência tem obrigação! Como presidente da Casa, está acusando um ministro, que é um par de Vossa Excelência, de fazer chicana. Eu não admito isso!
Barbosa – Vossa Excelência votou num sentido, numa votação unânime...
Lewandowski – Eu estou trazendo um argumento apoiado em fatos, em doutrina. Eu não estou brincando. Vossa Excelência está dizendo que eu estou brincando? Eu não admito isso!
Barbosa – Faça a leitura que Vossa Excelência quiser.
Lewandowski – Vossa Excelência preside uma Casa de tradição multicentenária...
Barbosa – Que Vossa Excelência não respeita!
Lewandowski – Eu?  
Barbosa – Quem não respeita é Vossa Excelência.
Lewandowski – Eu estou trazendo votos fundamentados...
Barbosa – Está encerrada a sessão!

Vamos ver amanhã, se já terão feito as pazes. A audiência da TV Justiça vai subir a píncaros nunca antes vistos na história deste país. Constrangedor, amanhã é dia de toga justa.

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