Fiquem tranquilos, nada de malhar a OAB local hoje.
Registro a notícia de falecimento de um cliente. Foi menino pobre, engraxate, corria atrás do trem no interior para pegar um borralho que caía da carga de minério, peneirava e vendia. Foi garçom do gabinete e mordomo do Governador do Estado da Guanabara, Carlos Lacerda, que ficou impressionado com o excelente café que fazia.
Já o conheci como empresário de confecções, autor da espirituosa propaganda da sua marca: "a roupa do gordo elegante".
De borralho de minério passou a comprar e vender imóveis. Garantiu-me que sabia manejar bem a arte de ganhar dinheiro, loteamentos, por exemplo, e discorria com proficiência sobre o tema.
Devia mesmo ser craque na matéria. Negociar honorários com ele foi difícil. Mas foi excelente cliente.
Era desses que não se intimidava e impressionado com a morosidade da justiça foi repetidas vezes atrás do juiz para que despachasse. Foi recebido mais de uma vez com lhaneza pelo meritíssimo. Revelou-se encantado com o tratamento recebido pelo magistrado. Mas o fato é que a adjudicação demorou mais de ano, apesar dos seus esforços somados aos da banca.
Ele tinha tanta urgência no documento, ligava sempre, tão educado, descubro agora pelo seu filho, que o documento que finalmente foi-lhe entregue em mãos, (quando me contou do cafezinho e do governador da Guanabara), não chegou a ser registrado no cartório de imóveis.
A urgência era tanta que pensei que sairia direto do escritório para a Comarca vizinha. Não foi. Passou mal dias depois, foi internado e faleceu. Foi em abril, soube hoje. Terá sido um homem feliz?
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