Venha caro Leitor, vamos adentrar à
Sala das Sessões do TJMG lá na unidade Raja Gabaglia. Já passamos pelo mármoreo
piso e sacamos nosso salvo-conduto na catraca, o crachá. Estamos, portanto,
livres da má vontade dos porteiros de terno que nos olham como se fóssemos
ninguém (afinal, não somos os senhores desembargadores). Seguimos tranquilos
rumo à catraca sem o adesivo de "visitante" na lapela e lá vem eles,
donos da bola nos interpelar. Antes que abram a boca a cobrar o adesivo,
sacamos da bolsa nosso crachá e quase o brandimos no ar, mais ou
menos como: Que visitante, que nada. Também laboro aqui. Deixa
o Cortella, o filósofo, te pegar uma hora para explicar um pouco sobre essa
distinção de quem é quem. Tudo bem, os rapazes cumprem ordens, mas atenção RH,
estão destreinados. Cortesia é imperativo. E só ensinar umas
frases-padrão e estará tudo certo, interpretaremos como pura cortesia e
respeito aos advogados.
Hoje a sessão será florida, já
divisamos na sala dois príncipes do foro. Sabemos que não se bicam e guardam
distância um do outro. A memória dos advogados é movida por associações, basta
colocar os olhos em algum magistrado e lembramos: ah, ele deu aquela sentença
naquele processo tal quando era titular da vara tal. É inevitável. Este aqui
foi uma liminar de medicamentos, esqueci o medicamento e o autor, mas lembro da
liminar. Aquele concedeu-me honorários irrisórios. Aquela prolatou aquela
fabulosa sentença na qual advoguei em causa própria. Aquele eu conheci no
interior de Minas num rincão numa causa de inventário, etc. etc.
Feito o reconhecimento do território e
as associações de praxe, vamos ouvir os príncipes do foro que nos antecedem na
tribuna. Sempre aprendemos e admiramos a naturalidade, o domínio da matéria, o
conhecimento da causa. Reparamos também na reação dos magistrados às perorações
e ao orador. Já foi dito da reserva que têm os magistrados diante de medalhões.
Alguns se mantém impassíveis, outros continuam a folhear votos, agora,
monitores de computador, outros que nem sabem que estão sendo observados deixam
o corpo falar e cruzam os braços, atitude de recusa e fechamento. Ambos os
príncipes foram ouvidos, pelo menos pelos relatores, pois, após a oração,
pediram vista.
Um desembargador saudou a ex-estagiária
de vara cível, agora advogada, após a sustentação oral, lembrando que aprendeu
com ela a vencer sua resistência ao então novel Código de Defesa do Consumidor.
Digno de registro.
Feita nossa oração, antes registro que
o Sr. Presidente da Câmara pediu brevidade a todos oradores diante do tamanho
da pauta. Não devia e nem precisava. Advogados praticantes sabem que devem
falar pouco e bem, ir à questão central logo. Além do mais, o processo em
questão durou três anos, t-r-ê-s a-n-o-s, até chegar aqui. Se demorou, e
há aqueles que demoram 8, 10, 13 anos, como pedir brevidade à parte justamente
no momento crucial em que vamos participar (coisas de pós-graduação) da
decisão? Nada disso. Temos direito a todo o tempo disponível e andamos
muito exigentes, estamos como Clarice, exigimos atenção. Nós, não, o direito da
parte.
"Escrevo com amor e atenção e ternura e dor e pesquisa, e queria de volta, no mínimo, uma atenção completa". (Clarice Lispector, Clarice na Cabeceira - jornalismo, p. 174, Ed. Rocco, 2012).
Tenho a impressão de que um dos maiores vilões da celeridade processual é o famoso (in)"conclusos". Depois de uma eternidade, o esperado "cite-se" ou "peço pauta".
ResponderExcluirMomento ápice do texto:
ResponderExcluir"Como pedir brevidade à parte justamente no momento crucial em que vamos participar da decisão?"
Ficamos anos a fio expondo as razões, os acertos e desacertos para termos que escutar um pedido de "brevidade" em pleno momento em que nos é dada a palavra. Tal fato já me ocorreu e como resposta:
- Excelência, pela ordem, falarei o que julgar necessário.
E assim o fiz até o fim!
Abraço Dra. Valéria, parabéns pelo blog que está cada vez melhor!
Bruno Cézar Gomes Fonseca - advogado
Bravos leitores, grata pelos pertinentes comentários. Parabéns a você, bravo Bruno, assim é que se advoga!
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