sexta-feira, 16 de novembro de 2012

A vida é mesmo um sopro


Há um ano atrás, em 10/11/2011, Alcione Araújo estava neste Blog em foto, livro, palestra. Hoje li no jornal que ele se foi ontem, 15/11/2012, repentinamente, um ataque cardíaco em Belo Horizonte num hotel. Fiquei triste. Travei conhecimento com ele pelas páginas do Estado de Minas e comentando uma crônica sua, Lili Marleen, começamos a trocar e-mails. Que rara sensibilidade. Que inteligência. Que elegância. Foi-se hoje. A vida é mesmo um sopro. Fica aqui registrada a homenagem do Blog ao escritor, filósofo e engenheiro, nascido em Januária e radicado no Rio de Janeiro. Fará falta. Raras sensibilidade, inteligência e elegância. Adeus, meu recente e delicado amigo.



“Assim, quando nos conscientizamos de fato da nossa finitude, percebemos que o espaço para sermos felizes está entre dois momentos fundamentais: o nascimento e a morte. Quando realiza em si mesmo a sua própria finitude, você tem muito mais o sentido do seu desejo, do que te dá prazer, do que te faz bem, do que te deixa feliz. Por outro lado, se você não se conscientizar disso, aí você se acha eterno e começa a abraçar coisas que não fazem parte do seu desejo.
Você começa a querer o poder e outras coisas que não te fazem feliz, só para criar um acervo de ornamentos e adereços absolutamente dispensáveis. Portanto, quando vislumbramos a nossa finitude, naturalmente vamos abrindo mão desses acessórios e buscamos tudo o que faz parte dos nossos desejos centrais. Então, quando digo que urgente é a vida, na realidade, quero dizer que urgente é o seu desejo na vida. Você é quem vai estabelecer a hierarquia das suas vontades. Essa é uma questão muito pessoal. Assim, quando você já tem ciência de si e da sua finitude, na maturidade, o mais importante é realizar o que realmente faz parte do seu desejo.”

“Hoje em dia um sujeito é levado a trabalhar mais, para consumir mais. E muitas vezes esse consumo não vem da sua escolha, ele é condicionante de outras pessoas. Muita gente, por exemplo, tem obsessão por trocar de automóvel. E várias vezes compra um carro que não tem nada a ver com o seu desejo, só porque os outros estão comprando um determinado veículo. Assim, essa pessoa passa a vida seguindo modelos. é uma coisa muito comum alguém sucumbir às vontades alheias, por moda, para ser aceito, para ser querido, por uma série de motivos. Aí, o cara vai ganhando uma corcunda, carregada de penduricalhos. E essa corcunda só pesa sobre ele próprio.”

“Ninguém pensa quanto vai custar um poema antes de escrevê-lo. Você pode ganhar dinheiro com o seu texto depois, por causa dos seus direitos autorais, é óbvio. Mas você escreve, na realidade, por causa de uma profunda necessidade de expressão. Por isso é que você cria. E os homens empreendedores também precisam ser sonhadores. O Mauá, por exemplo, era um grande sonhador. Se ele ficasse fazendo as contas na ponta do lápis: ”Ah, para fazer isso eu vou precisar de não sei quanto, caso contrário eu não tenho como fazer.” Se ele ficasse pensando assim, não faria a primeira ferrovia do Brasil, que na teoria era inteiramente inviável. A lógica do que é viável, na verdade, beneficia os que têm dinheiro. é como impor a lógica do dinheiro ao sonho humano. Claro que o dinheiro é importante. Mas não podemos transformar em troca tudo o que fazemos. Senão, vamos nos reduzir a alguma soma em dinheiro: “Quanto vale você? Quanto vale o seu sonho? Quanto valem os seus olhos? Quanto vale o seu saber?” O grande perigo disso tudo é criarmos uma criança com a idéia de que ela só pode sonhar com o que é real, com o que é viável. O real não é sonho. O real é um condicionamento.”

“A criação não tem nada a ver com a sensatez”

(entrevista a Márcio Vassalo, 2004)

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