O que tem a foto com o título da postagem? Rigorosamente nada, a princípio. Ao fim e ao cabo verão os curiosos leitores que sim, algo os une, a foto ao título. E o liame passa pela postagem anterior, a palestra do Diretor da Faculdade de Direito da UFMG na Academia Mineira de Letras há cerca de duas semanas. Chegarei lá.
Quanto à foto é o registro de um longuíssimo processo de inventário, obviamente litigioso, do contrário, não teria durado tanto. Um processo que parecia não ter fim, que afinal, chegou na semana passada. Eis o almejado formal de partilha, o último ato do processo. Hoje em dia é assim, mera cópia reprográfica que sequer merece capa. Para que, afinal, gastar mais papel?
Observem, a diferença entre os formais, este a seguir, de vinte anos atrás e de comarca do interior de Minas:
Lá, no interior, como cá, na capital, aconteceram em ambos processos separados pelo tempo e espaço, erros materiais, inexatidões, que demandaram novas petições e correções e mais documentos. Nem me lembrava destas petições que vejo agora folheando o antigo formal. Ainda bem que se esquece. Um viva ao esquecimento.
Depois de voltar vinte anos e verificar que algumas coisas mudam, a capa, a formalidade, outras permanecem, erros materiais, idas e vindas, etc., voltemos mais para alcançar a palestra citada. Fui para a Academia naquela noite pensando: o que tem em comum a Faculdade de Direito com a AML?
Se o Blog divulga também compareço, no mais das vezes. Neste caso pelos laços afetivos com a Faculdade de Direito onde me formei.
Quando cheguei o bonde já andava, ou seja, a palestra já havia começado. Tudo tem um lado bom, neste caso, embora tenha perdido o início pude ver, sem ninguém à volta, o belo prédio antigo sede da Academia Mineira de Letras encimado pela lua. Cenário ideal para o que se desenrolava no anexo moderno, foi mesmo uma volta ao passado de Minas. Uma aula de história.
Descobri que o atual Diretor, o Professor Hermes Guerrero está mergulhado na história da Faculdade, cultiva, escreve, pesquisa sobre ela. Falou sobre a fundação da Escola Livre de Direito em Ouro Preto. O baile de fundação, a precariedade do início, os primeiros alunos que foram figuras públicas de Minas e do Brasil e hoje dão nome às ruas da Capital. A transferência da Faculdade para a recém criada capital de Minas, Belo Horizonte. Professores e alunos da Faculdade de Direito e, literatos. Eis aí a ligação. Geração de homens públicos, poetas e escritores. E a transferência para a nova capital da Academia Mineira de Letras fundada em 1909 em Juiz de Fora.
Naquela noite fiquei sabendo que o palacete Borges da Costa foi doado em 1987 pelo então Governador de Minas, Hélio Garcia, ele também, ex-aluno da Faculdade de Direito.
Então, foi isso, uma noite de história e histórias dos maiores políticos e escritores e poetas brasileiros e mineiros. Foi mostrada uma foto da Revista do Centro Acadêmico Afonso Pena de 1922, na qual Carlos Drummond de Andrade, que não era aluno da faculdade mas frequentava o meio acadêmico, publicava poemas. Contou-se que Drummond cursava Farmácia, o único curso que não exigia o segundo grau completo, pois, fora expulso do colégio de Jesuítas em Nova Friburgo, por "insubordinação intelectual".
Como se sabe, Minas é um estado de espírito. Terminada a palestra saímos à Rua da Bahia, a mesma sobre a qual Drummond escreveu em 1930:
“Eu conhecia a Rua da Bahia quando ela era feliz. Era feliz e tinha um ar de importância que irritava as outras ruas da cidade. Um dia, parece que a Rua da Bahia teve um desgosto qualquer e começou a decair. Hoje, a gente olha para ela com um respeito meio irônico e meio triste. Como quem olha para Ouro Preto.”