Ontem, depois da briga, digo, altercação no Conselho Secional da OAB, municiados com documentos e interrompidos no exame por ordem do presidente da OAB/MG, pelo tom da intervenção e referência expressa às fotos, sentimo-nos, por um brevíssimo momento na pele de Edward Snowden.
A máquina é nossa, ninguém tasca. Ficou claro que perturbáramos a ordem e a calmaria da sexta na instituição. Ainda sob efeito da Síndrome de Snowden, tivemos maus pensamentos, sim, tivemos. Também, com tal surpreendente proibição e exaltação da funcionária, que parecia sob intensa pressão, quem não haveria de? Será que seríamos barrados na saída? Será que a máquina seria requisitada?
Tolices. Claro que não. Afinal estamos na Casa do Advogado, na instituição que preza e pugna pelos valores democráticos, lembramos aliviados. E estamos em 2014. Ufa!
Mas é fato que, as recepcionistas, duas, decerto avisadas do rebuliço no subsolo, e que sorriram à nossa chegada naquela tarde, sequer responderam ao "boa tarde" de despedida, ambas de cara fechada. Esprit du corps. Compreensível mas inaceitável.
Que ignorância dos valores democráticos, da recepcionista, passando pela secretária do Conselho e chegando até a presidência, de onde partira a ordem.
Durante a gritaria, (não, não chegou a tanto, exaltação, talvez?), a funcionária alterada, visivelmente com o emprego em risco, nos alertou: - Vai criar problema para mim. Se tentava nos comover, conseguiu, entendemos perfeitamente sua situação, você cumpre ordens e nós estamos exercendo um direito constitucional.
Isso, aos gritos, digo, em tom alterado, só mesmo em casa de advogados.
Mas não acabou, há detalhes que podem interessar aos leitores como o gestual autoritário que acompanhava as ordens. As informações de conteúdo e gestos parecem fornecidas juntas. Dignas de curso de oratória. Vamos a elas.
A frase a vista está encerrada foi acompanhada do seguinte gestual: mãos espalmadas para baixo posicionadas em linha reta em frente ao tronco e unidas. Num movimento rápido se afastam.
Na frase o processo aqui já acabou, agora é láá no tribunal, no láá a mão descreve círculos no ar a demonstrar que o tribunal é bem longe, como se dissesse "vá, embora, por favor, sim?"
Tal mise-en-scène talvez impressionasse um leigo, mas não um cidadão medianamente informado, e de forma alguma um advogado.
Já na calçada nos demos conta da ironia da situação. Se voltássemos no tempo faríamos a façanha de discutir com nossa própria pessoa. É que nos verdes anos de estudante de direito trabalhávamos na OAB, e justamente como secretária executiva do Conselho Secional. Mas o trabalho não era tão emocionante. Não, não era. Transcrever fitas cassete das gravações das sessões do Conselho, no silêncio da tarde, na grande sala vazia; expedir ofícios, convocações, fazer ata, secretariar as reuniões. Tempo de Gerson de Brito Melo Boson conselheiro. E atender os advogados. Não, pensando bem, não discutiríamos, não.
Os que apareciam no gabinete da presidência, era lá que funcionava e não no subsolo como agora, eram recebidos com lhaneza, afinal, tratava-se da Casa do Advogado, e viam tudo o que pediam afeto ao Conselho. Havia transparência, a não ser, se bem lembramos, os recursos que subiam do Tribunal de Ética, cuja vista em razão do sigilo, cabia somente ao representado e, é claro, ao seu advogado.
A eles, advogados, eram oferecidos com gentileza água e café, trazidos pelo Fred, o Frederico, o garçom da OAB/MG. Tempos cordiais e serenos. Fred, aonde você estiver, aquele abraço, rapaz!
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