terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os ossos do ofício

O Blog é autoexplicativo e quase confessional, é disso que o povo gosta, temos percebido. Ficamos quase irmanados nos apertos profissionais, os chamados "ossos do ofício".

Vamos falar mais um pouco da advocacia em causa própria. Quem não quiser, pule essa parte. A gente não escolhe (vejam o tom confessional), somos escolhidos. Uma instituição destinada a ensinar, um colégio que resolve assim, de vontade própria te dar uma lesada no bolso, de leve. De leve, nada.

Há coisas que não suportamos, dá urticária. Advogado mal educado, é uma. Advogado metido a esperto, é outra. Instituições que lesam julgando-se no direito a, mais uma. Estão pensando os leitores leigos que nos honram: ah, para advogado é fácil; é pá, pum. Escreveu, não leu ... . Não é bem assim, meus caros, essa história de envolvimento emocional com a causa não é lenda, ela existe. Depois dizem que advogados são enrolados, que advogados acordam lá pelas onze da manhã (JB, ainda), etc., etc. É preciso um tempo para digerir um sapo ou dois. E ontem finalmente, temos a satisfação de compartilhar que demos conta do abacaxi, digo, do sapo. 

Dizia um notável desses que anda por aí, não há nada fácil em Direito. O notável estava certo. O que parece simplesinho assim, bem arranjado, concatenado, apoiado, parece que foi lançado assim, num passe de mágica. Não foi, não. E a jurisprudência recente admitindo repetição de indébito em discussão de contrato com cláusulas nulas? Pronto, ficou melhor, ainda. Mostrei, ontem, à parte co-autora, a petição inicial. Está bom, devolveu. Bom? Nada disso, está ótimo. E deu trabalho. Não há nada simples em Direito. Há aqueles pernósticos que falam no tribunal: a questão é singela. Decerto não falam do artigo 543-B, do CPC, e seus cinco parágrafos. Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em  idêntica controvérsia ... Singela é palavra tão antiga que minha avó usava. Falava de uma pessoa, de uma roupa.

Ainda que, vá, admitamos, a questão seja simples, tornar o direito efetivo e realidade dá um trabalho danado. Quando for distribuir a ação e levar aquele chá de cadeira na fila sentada, contarei em detalhes. Verão com quantos paus se faz uma canoa, quantos passos são necessários para gerar um processo que se arrastará, arrastará. Participarão ativamente do nascimento e propositura da ação. Oxalá o trâmite seja breve (duvido) e a sentença favorável. Depois virá a apelação, o tribunal, já estão cansados? Terá passado mais de ano, se tivermos sorte. Depois o cumprimento da sentença. Vejam que oportunidade ímpar. Participarão ativamente de um processo "simples" e poderão aquilatar a qualidade da nossa justiça.

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