Não acreditei no e-mail que
recebi, mas é verdade. Veja abaixo: a nossa entidade de classe, (leia-se
entidade de classe), faz promoção no mês do advogado como um varejão de ofertas.
Destoou.
Há fato preocupante e que se desvia do que se espera de um órgão representativo de uma classe: um
escritório particular deu o carro para a Secional sortear à massa de advogados,
ao populacho de causídicos. Essa foi demais. Há um patrocinador. Que bonito!
Que beleza! E a Secional faz propaganda do escritório.
Como advogada, não gostei. Muito comercial, muito consumista, muita estratégia de marketing para uma autarquia federal. Esse não é o papel da OAB.
Agora só falta abrir a Porta
da Esperança. Primeiro vamos ouvir os universitários. E se o
advogado não ganha, quem vai ganhar? A carta. Não podemos chamar o
Lombardi, ele morreu. Mas o Baú da Felicidade, parece, vai de vento em popa.
Não é essa a entidade a qual esta
modesta beca quer pertencer. Essa que distribui carros e prêmios, não.
Quem será o desavisado que irá aderir a essa promoção? Só
quem estiver com seu carnê de prestações rigorosamente em dia.
Sinceramente, esta estratégia de marketing jogando bacalhau ao
auditório, digo, bens de consumo aos advogados, merece uma análise sociológica.
Valha-me Raymundo Faoro, com essa eu não contava.
Proponho que o mês do advogado
seja dedicado à reflexão sobre o poder, mercado e consumo. Se é para
distribuir algo à massa, que seja o livro Os Donos do Poder, (1958), Editora Globo. Creio
que nós, advogados ganharemos mais do que com esse sorteio de quermesse rica. Francamente.
Raymundo Faoro. Advogado, jurista e
escritor brasileiro nascido em Vacaria, Rio Grande do Sul, considerado um dos
grandes pensadores do Brasil, autor de análises imprescindíveis ao entendimento
da sociedade, da política e do Estado brasileiro. Filho de agricultores, passou
boa parte da infância e da juventude na cidade de Caçador, Santa Catarina
(1930-1945), para onde se mudou com a família e onde fez o curso secundário, no
Colégio Aurora.
De volta ao Rio Grande do Sul, como estudante
universitário foi co-fundador da revista Quixote (1947) e escreveu para
diversos jornais do Rio Grande do Sul. Formou-se em direito pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul (1948) e três anos depois (1951) seguiu para o Rio
de Janeiro. Admitido por concurso como Procurador do Estado, na função
destacou-se como um dos mais importantes juristas do Brasil, especialmente
reconhecido e bastante respeitado pela sua contribuição às Ciências Sociais.
Publicou um livro considerado um clássico: Os Donos do
Poder (1958), pela Editora Globo, de Porto Alegre, onde analisou a formação do
patronato político e o patrimonialismo do Estado brasileiro, levando em
consideração as características da colonização portuguesa. Escreveu outros
livros em que discutiu temas como a política brasileira, ensaios jurídicos,
além de um estudo sobre as obras e os personagens do escritor Machado de Assis.
Também atuou como articulista em diversos jornais e foi presidente da Ordem dos
Advogados do Brasil, a OAB (1977-1979).
Na política diretamente lutou pela
redemocratização do País, defendeu o fim dos Atos Institucionais do regime
militar e participou ativamente no governo João Figueiredo, na campanha pela
anistia ampla, geral e irrestrita.
Faleceu vítima de
enfisema pulmonar, aos 78 anos, no Rio de Janeiro, velado na ABL e enterrado no
Cemitério São João Batista. Conhecido como “O Embaixador da Cidadania”, teve
outras publicações importantes como o ensaio Machado de Assis - A Pirâmide e o
Trapézio (1975), A Assembléia Nacional Constituinte - A Legitimidade Recuperada
(1980) e Existe um Pensamento Político Brasileiro? (1994).
Ainda sobre Faoro:
"Estudos Avançados
Print version ISSN 0103-4014
Estud.
av. vol.17 no.48 São Paulo May/Aug. 2003
http://dx.doi.org/10.1590/S0103-40142003000200024
Em 1992, Faoro fez
outra conferência no IEA: "A questão nacional: a modernização",
publicada na edição nº 14 da revista (jan.-abr. 1992). Dessa vez sua análise
foi feita a partir do contexto do governo Collor. "As modernizações, entre
nós, procuraram, sem alcançar, a modernidade industrial, que, por serem
modernizadoras, não seriam capitalistas. Por sua vez, o industrialismo não
gerou o Liberalismo econômico, porque o Liberalismo econômico não se gera por
decisão oficial", frisou. No seu entender, dessas características
históricas brasileiras não surgiu uma ordem política liberal, "perdida na
sombra ideológica permeada pela elite". Ele identifica uma perversão no
processo nacional de implantação do Liberalismo econômico, que se transformou
numa "conquista, irracionalizadora por natureza, dos favores
oficiais". Para Faoro, o caminho que leva à modernidade é o mesmo caminho
no qual trafega a cidadania, uma via "que só os países modernos e não
modernizadores, percorreram", e que não tem atalhos: "Os atalhos estão
cheios de atoleiros de autocracias.
Mauro Bellesa é jornalista do IEA.
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