No último dia 30
a Corte Especial do TJ/SP afastou do cargo o presidente do TRE/SP, desembargador
Alceu Penteado Navarro. A Corte suspeita que ele e os desembargadores Fábio
Monteiro Gouvea e Viana Cotrin, autorizaram a si próprios pagamentos de
quantias milionárias a título de verbas acumuladas de férias e licença prêmio
no período que integraram a Comissão de Orçamento do TJ/SP, entre 2008 e 2010.
Veio o TSE - Tribunal Superior Eleitoral e suspendeu
a decisão da Corte Paulista por questão de competência.
A Justiça Estadual é uma coisa (Corte
Paulista) e federal outra (a Justiça Eleitoral). Trocando em miúdos: o TJ de SP
não pode mandar no TRE/SP.
O ministro Marco Aurélio defendeu a permanência de Navarro na presidência do
TRE/SP ao apontar uma "ingerência" da Justiça Estadual sobre a
Justiça Eleitoral, que é Federal. "Não
sei se talvez pela composição gigantesca do órgão especial (do TRE/SP), talvez
por ser SP, um Estado país dentro do país, que se caminhou para a mesclagem,
para uma ingerência em um órgão Federal",
disse.
O ministro
Dias Toffoli afirmou que a
comunicação da decisão do TJ/SP à Justiça Eleitoral não gera o afastamento de
Navarro da presidência do TRE paulista. "Enquanto
não houver um provimento, uma deliberação por parte dos órgãos competentes do
Judiciário Eleitoral sobre os efeitos desse fato, ele (Navarro) se mantém na
presidência do TRE, sem prejuízo de, na próxima sessão administrativa (do TSE)
ou quando o tema estiver maduro, decidirmos que esse ofício (a comunicação do
TJ/SP) é suficiente para afastá-lo",
argumentou.
Quem somos nós, (não é verdade?) para contra argumentar
com os próceres da mais alta corte do país? “És advogada”, sopra Calamandrei,
o florentino, do retrato na parede. “Sei uno avvocato” (em italiano é assim, não se flexiona o
gênero), não é à toa que costumo dizer: advocacia é mesmo
coisa para macho.
Esse é o Brasil, esse é o nosso Poder Judiciário. Podemos
resumir o fato em questão de fundo (direito material) e de forma (direito
processual).
A questão de fundo é
grave: indícios de pagamentos milionários por desembargadores a si próprios na
Comissão de Orçamento. Suspeitas, (frise-se, tudo indica que, etc.) Para depois
não dizerem que estamos prejulgando e condenando antes da decisão.
A questão de forma: O
TJSP (órgão máximo da Justiça Estadual) não teriacompetência para
afastar o presidente do TER, órgão que pertence à Justiça Federal.
Ocorre, caríssimos ministros, tão escandalizados com o error
in procedendo e error in judicando do TJSP: os desembargadores que
integram a Justiça Eleitoral não são outros senão os mesmos desembargadores do
Tribunal de Justiça.
Vai daí que, o TJSP está cortando na própria carne. Vamos
discutir isso? Claro que não. Roma locuta causa finita. O TSE falou, está falado.
O triste é que no Brasil a questão de forma tem superado
em tudo a de fundo, tem servido de escudo para tanta coisa e tão bem. Não é à
toa o mantra do festejado advogado de Demóstenes: “minha defesa é
técnica”, “minha defesa é muito técnica”.
Como é mesmo aquela frase famosa: "Instaure-se a
moralidade pública ou nos locupletemos todos." Frase atribuída
simultaneamente ao Barão de Itararé, Aparício Torelli e ao Stanislaw Ponte
Preta. Ambos cultuados e aparecidos no Blog. Voto no Aparício, “locupletemos”
é palavra antiga e não pertence à bossa e ginga de Stanislaw.
Outro dia, numa reunião com clientes num escritório sério
e famoso, um cliente disse quando avisado que o fim da indenização por dano
moral não é enriquecer ninguém.“Nós sabemos que o que deixa a gente rico é
trabalho”. Mordi a língua e pensei cá com minha écharpe de
onça: “Você acredita nisso ainda? No Brasil?” Mas fiquei muito
quieta, impassível e guardei minhas ácidas conclusões cotidianamente
confirmadas pelos jornais.
Vamos voltar à questão de fundo: manda a cartilha já
despedaçada da moralidade pública que, em sendo investigado, já
entregue o cargo. Vocês têm visto isso acontecer por aí?
Não, ninguém larga a rapadura fácil assim não. Afinal, há
tanta defesa técnica, estritamente técnica, que não se precisa sequer chegar ao
mérito e tudo continua como dantes. Faz-se aquele processo para inglês ver. "A gente finge que processa, não pune e vocês fingem que acreditam". Ou não.
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