quarta-feira, 13 de junho de 2012

Pingue-Pongue de advogado no TJMG

Ante-sala de desembargador à espera de despacho com o próprio. O recepcionista, rapazinho, namora ao telefone. O seu ajudante, de cabelo a "la  Neymar" se joga sobre a cadeira, chama o outro de "véi" várias vezes e sai para comprar o pão do lanche. É a informalidade dos brasileiros, são os donos do pedaço. - É rapidinho, tá? o recepcionista diz à namorada, interrompendo o colóquio quando vai me anunciar. Não queria, na verdade, denunciar o moço, justo no dia dos namorados, mas isso é bem brasileiro, namorar ao telefone no trabalho.  Não pode, tá? Já denunciado o moço, quero mesmo é falar dos advogados. Como ficam dóceis e bonzinhos nos gabinetes,  diria até servis. Chegou um colega e falou ao romeu recepcionista: - Vim trazer um memorialzinho. "Ai". Não pode  Assim não dá. Você capricha no memorial, resume, sintetiza, torna atrativa a leitura e depois disso tudo diz "memorialzinho". Alto lá, nobre colega.

Caro Valladão, à frente do MDAM, Movimento de Defesa da Advocacia Mineira, o trabalho tem que começar em casa, aumentar a autoestima do advogado.

Outro tópico da ida ao tribunal: os autos estão conclusos (com o desembargador), no dia anterior você faz o protocolo com pedido de vista fora de cartório, (tem urgência, a cliente está numa situação difícil), vai à assessora (fui informada que não recebe advogado) mas insisto, é um simples pedido de vista, consigo, explico, peço agilidade. Fui ao cartório, explico de novo, protocolo, etc, urgência, etc. Volto no outro dia além da hora marcada 40 minutos (dando tempo para as coisas acontecerem). Sigo as instruções do funcionário do cartório. Tudo certo? Errado. Deu tudo errado. A petição que iria subir de manhã, só subiu para o cartório às 14:25. O informativo da maquininha diz que os autos estão conclusos (com o desembargador), Sua Excelência me informa que não estão com ele e me assusta com a possibilidade de indeferir a vista simples. Já peço o número da portaria malfada para acionar o MDAM imediatamente, foi só um susto, a vista será deferida. Ufa! Toca a procurar os autos, cartório, assessoria, sobe e desce de elevador. Pausa para café na Sala dos Advogados porque esperar de pé no cartório advogado não merece. Volto ao cartório, nada ainda, volto à ante-sala do gabinete, despacham-me para outra recepção no mesmo andar para falar com outra assessora e me mandam de novo para o desembargador. Pode? Não pode.

Nesse ponto a paciência da advogada foi pro espaço e reclama veementemente de ser tratada como bola de pingue-pongue. Há um agravante, já deu a hora da consulta marcada com cliente no escritório e estamos aqui atrás de dois processos. Passar a tarde amolando os funcionários dos gabinetes e assessorias tem um lado bom, até biscoito te oferecem. O que seria simples começa a transformar-se em uma novela mexicana. E já vimos isso antes, o desfecho não é nada bom. Quando começa assim, vai piorando, piorando, e quanto mais se mexe, pior fica. Em certos casos é melhor não mexer muito, pois vira um angu de caroço. Por outro lado, se não pegamos o touro à unha, digo o processo sob nossos cuidados e vista, vai para as calendas gregas (para a turma jovem: demora pacas). E tamanho esforço para ter os autos em mãos tem motivo: o cliente tem urgência na tutela negada pelo juiz de primeiro grau. Rogo mentalmente a Santo Ivo que não se repita neste caso o que se passou com aquele processo distribuído ao relator Tal que ... deixa para lá. Ele agora passou para o lado de cá do cancelo e é nosso colega de beca. O angu de caroço foi algo inacreditável. Vai explicar para o cliente...

Quando jogar ou não jogar a toalha? Depois de metade da tarde escoada vigiando o deslocamento dos autos pelos andares do tribunal? Também doutora, querer o trâmite de três dias (no mínimo) em duas horas? Dá nisso. Na burocracia inerente aos trópicos? O advogado é que inicia, movimenta e agiliza a máquina do Judiciário.  O advogado é o catalisador, o que provoca a reação, o que faz acontecer. Lembrem-se de tudo isso quando forem chamar seu trabalho de memorialzinho

Agora sentada no sofá da segunda recepção do gabinete, penso: por que não largar tudo e mandar vir o estagiário amanhã? É que o Tribunal da Av. Raja Gabaglia fica no Cafundó do Judas, digo, é muito distante do escritório. E há a situação periclitante do cliente que reclama tamanho empenho pelos autos. E o outro cliente lá no escritório à minha espera à base de cafezinho e leitura? Há quinze minutos atrás ainda estava de bom humor, agora não sei mais. Pelo menos a moça, digo, a advogada tem autocrítica e fez blague com os funcionários do cartório, quatro no total que se esforçaram em atender, "fazer em duas horas o procedimento de três dias e a advogada ainda reclama! Esses advogados são mesmos uns chatos, querem tudo a tempo e a hora." 

E a máquina senhores, tem ritos e tempos próprios. Vá cutucá-la e manter o bom humor depois disso. Depois me conte. Com os autos em mãos, (aleluia!), partimos para a sessão de desculpas e atendimento ao caro cliente que nos espera no escritório.

4 comentários:

  1. Cara Valéria, parabéns pela persistência! Não segui carreira de advogada exatamente pela falta de, digamos, "vocação". Mas você tem em mim uma fã. Adoro o que você escreve, e leio sempre... e também indico aos amigos.
    Boa sorte nessa luta diária, nas idas e vindas dos Tribunais.
    Abraços da prima, Cinthia Veloso

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    1. Tenho uma leitora e fã, ôba! Obrigada pelos bons votos, pela leitura e pela indicação.Abraços, Cinthia.

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  2. Muito bom seu comentário. Isso é o mínimo que acontece... Já passei por coisas piores...

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    1. Olá, se quiser compartilhar sua experiência com a máquina o espaço é dos advogados, utilize-o. Seja bem vindo e volte sempre. Grata pelo comentário.

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