sexta-feira, 8 de junho de 2012

Harvard e o sistema de cotas para índios


O brasilianista Kenneth Maxwell publicou na Folha de SP em 26/05/2012 o artigo “Cotas ao estilo de Harvard”. Da sua leitura concluímos o seguinte: a questão das cotas não é fácil em nenhum lugar do mundo e ainda: lá, nos EUA, figuras públicas também caem em esparrelas. (Voltou a falar difícil). Para os muito jovens e que não conheceram a escola risonha e franca, ótima oportunidade para visitar o Aurélio ou o Houaiss, como queiram.

Vamos conhecer a experiência da famosa universidade americana com cotas para índios e ao mesmo tempo acompanhar a trajetória política de candidata à cadeira no Senado deixada por Ted Kennedy, Elizabeth Warren.

Elizabeth Warren é a candidata democrata ao Senado pelo estado de Massachusetts e professora renomada na Escola de Direito de Harvard. Presidiu o comitê do Congresso que investigou a crise financeira de 2008, tornou-se assessora do presidente Obama e conselheira especial do secretário do Tesouro. Nascida em Oklahoma, filha de um zelador, Elizabeth Warren não teve uma infância fácil. O fato que complicou sua candidatura ao Senado é que Warren alegou ser descendente de indígenas e não há provas sólidas que o seja. A Escola de Direito de Harvard definiu-a como a “única mulher membro de uma minoria a ser professora titular”. Elizabeth alega ser em parte cherokee.

No passado Harvard teve alunos cherokee. Fundada em 1636, a universidade estava enfrentando problemas financeiros, e por isso, em 1650 quando foi oficialmente reconhecida, uma associação britânica, a Sociedade para a Propagação do Evangelho na Nova Inglaterra começou a coletar fundos para a educação de estudantes indígenas. Cinco foram admitidos, um deles, da tribo wampanoag, de Martha’s Vineyard, conquistou um diploma. Todos os alunos indígenas morreram prematuramente. Na década de 1690, a universidade solicitou autorização para demolir os prédios que os abrigavam. Somente em 1997 Harvard instalou um aplaca em homenagem ao “Indian College”.

Diz Kenneth Maxwell no seu artigo na Folha, traduzido por Paulo Migliacci: "Um compromisso com a diversidade é admirável. Warren poderia ter argumentado que era uma menina branca pobre que conseguiu se tornar professora de direito de Harvard. Mas preferiu alegar ser o que não é, e Harvard aceitou essa alegação para justificar uma cota fraudulenta."

Comentário do Blog: vejam o que é a democracia americana, a liberdade de expressão e a independência dentro da própria universidade. Até onde sabemos Kenneth Maxwell ainda é diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller para Estudos Latinoamericanos da Universidade de Harvard. Vamos ver se permanecerá no cargo depois do artigo.

Como se vê, a preocupação com a inserção das minorias é assunto muito antigo. E a receita continua a mesma, cotas. Voltaremos ao assunto com subsídios, independentes, como poderão verificar, (isto sim é que é ciência, dizemos nós), e vindos de dentro de Harvard.

Para dar o gosto e o tom e ficarmos de queixo caído (para não cair demais no popularesco), cenas de Harvard. Que potência! E pensar que em 1650 estava de pires na mão, digo, enfrentando problemas financeiros. O que é o tempo ... E o conhecimento consolidado ... Wow! (Como dizem os americanos). Assista e ouça a música de acento mexicano. Parece que eles realmente entendem de minorias.



A Universidade Harvard (em inglês Harvard University) é uma das instituições educacionais mais prestigiadas do mundo, bem como a mais antiga instituição de ensino superior dos Estados Unidos. Até 2011, ela era considerada a melhor universidade do mundo pelo Institute of Higher Education Shanghai Jiao Tong University[4](ver: Academic Ranking of World Universities).
Fundada em 8 de Setembro de 1636 em Cambridge, Massachusetts, era chamada simplesmente de new college (universidade nova). Foi batizada então em 13 de Março de 1639 como Harvard College, em homenagem a John Harvard, um dos seus principais mecenas. A primeira vez na qual se mencionou a instituição como universidade foi em 1780. (Wikipédia)

Quem é Kenneth R. Maxwell 
Nascido em 1941 é um historiador britânico. É especialista em História Ibérica e no estudo das relações entre Brasil e Portugal no século XVIII, sendo um dos mais importantes brasilianistas da atualidade.
Tendo publicado "Conflicts and Conspiracies: Brazil & Portugal 1750-1808" (Cambridge University Press, 1973), notabilizou-se no Brasil a partir da publicação da obra no país, em1977, sob o título "A devassa da devassa - A Inconfidência Mineira: Brasil e Portugal 1750-1808" (ISBN 8521903979). Publicou, posteriormente, "Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo" (1996) e "A Construção da Democracia em Portugal" (1999). A sua obra mais recente é "Naked Tropics: Essays on Empire and Other Rogues" (2003).
Em maio de 2004 renunciou ao seu cargo de Diretor de Estudos Latino-Americanos do Conselho de Relações Exteriores de Nova York por ter criticado Henry Kissinger em uma resenha de livro sobre o golpe de Estado de Augusto Pinochet em 1973 e de não ter tido uma resposta publicada na revista Foreign Affairs.
Atualmente, é diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro David Rockefeller para Estudos Latinoamericanos da Universidade de Harvard. (Wikipédia)
Um pouco mais de Kenneth Maxwell e Minas Gerais
"Kenneth Maxwell - Um Inglês nos TrópicosSource: Revista de História da Biblioteca Nacional
http://www.revistadehistoria.com.br/
 Atualmente, é professor do Departamento de História e diretor do Programa de Estudos Brasileiros do Centro de Estudos Latino-Americanos (DRCLAS) da Universidade de Harvard. O historiador conversou com a Revista de História no escritório da Harvard em São Paulo.

(...)
RH Você foi pesquisar em Minas Gerais também?
KM Achei importante ir a Minas para ver a geografia e as cidades históricas. Isso foi em 1967. Quando cheguei lá em Ouro Preto, disse: “Oh, que coisa curiosa”. Pareceu-me um lugar propício para ser o palco de uma rebelião, pois seria muito difícil para Portugal reprimir uma revolta séria no meio daquelas montanhas. Fiquei lá várias semanas, hospedado no velho Hotel Toffolo, do outro lado da Casa dos Contos, e o diretor do Museu da Inconfidência abriu muitos arquivos para que eu pesquisasse. Quando voltei ao Rio, tive um encontro muito curioso. Fui convidado por um amigo, que trabalhava na embaixada inglesa, para uma festa em um grande apartamento no Flamengo. Encontrei lá um jovem, e ele me perguntou o que eu estava fazendo no Brasil: “Estou aqui há dois anos, interessado no Brasil do século XVIII”. Aí ele diz: “Ah, o que você acha das perguntas feitas ao alferes Joaquim da Silva, no dia 18 de janeiro de 1790, nos Autos da Devassa, volume 4, página 47?”. Ele ficou chocado por eu não ter lido, na época, os Autos da Devassa. Bem, esse rapaz era o Elio Gaspari. Pensei: “Na volta para casa, eu tenho que ler os Autos da Devassa”. Eu estava pensando que a minha tese tinha acabado, mas vi que ainda havia muita coisa para ler. Precisei de mais três anos de pesquisa para fechar.
Próximo tópico sobre o assunto: as consequências do sistema de cotas nos grupos dentro da universidade.

3 comentários:

  1. Juliene Vieira Lima Fagundes Cunha19 de junho de 2012 às 13:25

    Estamos agora no Conselho Nacional de Justiça com um pedido de cotas para índios e negros no serviço público do Poder Judiciário e apesar de todas as normas constitucionais, tratados internacionais que o Brasil aderiu, pasmem, o relator sustenta que lei é necessária... quatrocentos anos de escravidão, o último País a abolir... um genocídio contra os índios que nunca foi discutido ou reparado, com a a invasão de suas terras, destruição de seu ecossistema, roubo de suas riquezas e um firula legal é a desculpa formal para manter o status quo.

    ResponderExcluir
  2. Cara Juliene, grata pelo seu comentário. Se não for pedir muito, gostaria de saber mais, se vocês são uma associação, qual o número do processo no CNJ, o nome do relator. Seu comentário reforçou minha disposição em publicar mais sobre o tema, conforme prometi na postagem, as consequências do sistema de cotas nos grupos dentro da universidade, trabalho em curso em Harvard. Volte sempre, abraço.

    ResponderExcluir
  3. por favor mande um email que mando todo o material a respeito das quotas. o Conselho Nacional de Justiça concedeu em parte o pleito. (mande para genetica@cescage.edu.br)

    ResponderExcluir

O dia a dia de uma advogada, críticas e elogios aos juízes, notícias, vídeos e fotos do cotidiano forense

Persistência contra jurisprudência majoritária

E nquanto a nossa mais alta corte de justiça, digo, um dos seus integrantes, é tema no Congresso americano lida-se por aqui com as esferas h...