Para quem não é de Belo Horizonte vale a pena contar o que sucedeu aqui no que se refere a manifestações populares. Há entre nós um frei carmelita, holandês de nascimento, mais brasileiro e mineiro que muitos de nós.
Nascido no norte da Holanda em 1933, é o sexto de uma família de 11 filhos. Conheceu a guerra na infância, saiu da casa dos pais aos 14 anos e ganhou mundo. Chegou ao Brasil aos 17 anos, foi ordenado em 1959 em São Paulo, adotando o nome religioso de frei Cláudio. Na década de 60 foi estudar teologia em Roma, cursou pós graduação e doutorado em teologia dogmática, respirou os ares do Concílio vaticano II e graduou-se em psicologia clínica. Em 1967 veio para Belo Horizonte, onde desde então dedica-se a intensa obra social na Paróquia do Carmo. Criou serviços médicos e de psicologia para os pobres no ambulatório da Igreja, além de biblioteca. Promove mutirões de construção de casas nas favelas, hoje batizadas de comunidade e põe a mão na massa. Enfrentou o regime militar com a mesma coragem que demonstra ao duvidar de dogmas medievais, ao questionar o papel do clero e os desmandos da Igreja ao longo da história. É um sopro de renovação e liberdade. É um espírito livre, dotado de grande carisma que arrasta multidões às missas de domingo.
Iconoclasta assim, é claro que despertou e desperta incômodo às alas conservadoras. Não é de hoje que tentam afastá-lo do púlpito. Tentaram em 2010, a comunidade paroquial reagiu. Tentaram novamente agora, cancelando a missa das 11 horas e retirando dele a sala onde atendia as pessoas e trabalhava. Veio a reação popular e a visibilidade dada ao episódio pela imprensa escrita e televisada é de ser notada.
As cenas da igreja fechada com corrente e cadeado e uma multidão cantando e protestando contra a suspensão do frei circulam na imprensa e na internet.
A suspensão durou pouco, voltou pela força do clamor popular, aos 81 anos, com humor e humildade voltou aos braços do povo. Duas mil pessoas foram aclamá-lo no último domingo, 9/2. Ave, frei Cláudio!
Eis a verve do frei, que fala "uai" e "sô" (mineirês), colhida in loco, o repórter que faz a entrevista tem só o som, nós, o som e a imagem: "Eu não saí, não".
Imagens exclusivas do Blog
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