terça-feira, 10 de abril de 2012

Roma pode também ficar muito longe


O ofício, por vezes, é cansativo. Pede-se mais que o esforço físico de deslocar-se daqui para ali. O ofício de advogado pede raciocínio, muita leitura, escrita não mais, digitação. E tirocínio, tão em falta nestes dias. Pede revisão também, das petições e das crenças. Tem que ter os códigos em edição atualizada, entender alguma coisa de informática. Paciência para ouvir o que não interessa diretamente à questão, mas é muito importante para o cliente dizer naquele momento. 

Não ter hora, isso é muito importante, as horas são todas elas, sábados, domingos e feriados, para cumprir prazos. Madrugadas também são ótimas para trabalhar, ouvindo os grilos e os cães latindo. Só vai sentir mesmo como é bom no dia seguinte, quando acordar com os olhos de ontem. Péssima ideia varar a noite, às vezes não há outra maneira. E o tal de discutir honorários com o cliente? Depois de duas horas de reunião, mais duas de viagem? Que tal? Emoção também cansa, disse-me certa vez o Dr. Jorge Moisés, advogado, o pai.

Este foi o capítulo dos ossos do ofício. Há também o capítulo do filet e dos brioches, que certamente deve andar a caminho. Não devemos esquecer também os temas apaixonantes quando perdemos a conta das horas e sem certeza de nada, nem de honorários nem de glórias. Até isso acontece. 

E circular por muitos meios, (mas não todos, vide as garças de Aracaju*), ir ter com os grandes, os simples, os médios. Aprende-se muito observando, ouvindo, inclusive a própria classe. Como é variada a classe dos advogados. Ouvi uma vez uma advogada tarimbada intitular-se ao debater na tribuna com um dos príncipes do foro: “eu sou um soldado raso.” E bem valente, diga-se. Creio, inclusive, que ganhou a causa no tribunal. E conversando fica-se sabendo de muita coisa, que Roma não se fez em um dia, que há muita história já passada embaixo da ponte, e quem não conversa e se dispõe a escutar nem sonha. Hoje por exemplo, numa conversa enquanto aguardava um cliente que não veio, com um advogado de larga experiência de vida e de banca, soube de coisas do arco da velha. E soube de fatos que explicam trajetórias. 

Às vezes vemos só o fato consumado. Mas por trás dele, dentro dele há um mundo, há gente, há história. É, Roma não se fez em um dia. E Roma pode também ficar muito longe. Para quem vem do interior, o caminho até a tribuna é mais longo. E a distância não é só física. Eu disse isso na minha estréia na tribuna do TJMG da Rua Goiás, coisa de 16, 15 anos, outro dia mesmo, embora tenha mais anos de formada. Tive meus percalços. Disse-me um advogado mais velho: “você é ousada.”
Roma, pode ser, inclusive, um sonho bem distante.
(De Beca e Toga em dia de ousadia).

*Ministro Ayres Britto à Veja, 08/04/2012, amarelas.

Para ilustrar: périplo a Divinópolis. O advogado vai aonde o povo dele está, no caso, no Hospital São João de Deus em Divinópolis/MG, 04/04/2012.




Na maternidade, quarto dos plantonistas

Com a colega Dra. Conceição Melo

Dra. Jô

Segunda parte da reunião





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