quinta-feira, 19 de abril de 2012

O estigma do mineiro


Ando deveras preocupada com o estigma dos mineiros, obviamente por razões pessoais. Ouvi ontem largamente sobre nossa outrora aprazível BH continuar a ser na verdade, uma roça-grande. E tome espírito tacanho, medroso, mão de vaca e por aí vai. Disse meu interlocutor: - Sabia que Belo Horizonte é praça de teste de novos produtos? Se vender aqui, vende em qualquer lugar. E não é porque o povo daqui é exigente, não. É porque não põe a mão no bolso facilmente. E eu que pensava que o público de BH era tido como exigente pelo pessoal do teatro pela qualidade. - Não, é porque é frio. Ah!! Veja só. Disse meu interlocutor: - Ao passo que em São Paulo há fartura, de oportunidades e visão progressista. O nosso “El Dorado” nacional. É lá que tudo acontece.
Hoje abri um jornal de Minas que não só assino como leio diariamente, página inteira com a mineira ministra Carmen Lúcia Antunes Rocha, nova presidente do TSE. Primeira mulher a assumir a cadeira. Solenidade austera. Fomos informados novamente e já há mais tempo a imprensa noticiou seus hábitos, não diria republicanos como chamou o jornal, mas democratas: dirige o próprio carro e prefere táxis aos carros oficiais, não se furta às filas de check-in e carrega a própria mala.
Em entrevista a ministra citou outro mineiro ilustre: “Como dizia Milton Campos, acho que se espera de qualquer juiz é que esteja sempre em seus cálculos a conduta austera como é própria da República e modesta como convém aos mineiros.” Vê-se que a ministra é exceção na corte, digo, Brasília, em que a liturgia do cargo dá o tom, para ficar só nisso. Precisamos lembrar o episódio do caixa eletrônico, o estagiário, o presidente do tribunal? Creio que não. 
Continuando com a digressão mineiriana, pergunto: a modéstia convém aos mineiros? Porque, meu Deus? É o que me pergunto hoje. Será por causa das montanhas, da roça, do barroco, do minério? Do nosso sotaque risível? (Para os demais estados da federação, é claro).
A interrogação piorou quando dei de cara com programa da OAB/SP, eles tem programa de tv. E o afamado advogado D’Urso, presidente agora de diretoria de eventos ou algo assim dava entrevista sobre a inovação na quantidade de palestras: tinham palestras de manhã, inovaram, agora têm palestras de manhã, de tarde e de noite. E inovaram mais: palestras aos sábados, depois inovaram com palestras também aos domingos. Fiquei pasma com tamanha inovação e divulgação na imprensa televisiva. Talvez os mineiros devam mesmo continuar modestos.
Certa vez ouvi de um colega que privava socialmente do convívio de desembargador mineiro que disse a ele: esteve em meu gabinete despachando uma advogada paulista (e era eu). Terei sido imodesta no despacho?  Nunca soube. Uma pausa junguiana aqui (sincronicidade): justamente hoje mandei pras catacumbas (lixo) as cópias desta ação terminada, cujo recurso, permitam-me dizer, ganhei no STJ contra a decisão do desembargador, uma questão processual aparentemente simples mas que recebeu um acórdão ... , vamos deixar para lá. Virar a questão no STJ está ótimo e de bom tamanho.
De volta:  continua a intrigar-me sobremaneira o estigma dos mineiros. Quando seremos chamados a participar da festa imodesta da federação, sem estigmas? Aferrar-nos à carapuça pode nos custar perder o bonde. Coisa de mineiro. Respostas e sugestões para este Blog.

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