Vaticanleaks
e a renúncia do Papa Bento XVI
O mundo, nós, os civis, os cidadãos e o pothus (povão) assistimos, uns estupefatos, outros, levemente surpresos, à renúncia do Papa. Nunca antes na história deste mundo (...) nada disso, já
desencavaram uns dois nos primórdios que renunciaram, um quase foi assassinado
e impedido de chegar à Roma, outro sequer era papa.
Dá gosto de ver como a imprensa televisiva brasileira não dá
nome aos bois, aos fatos e leva autoridades no assunto papal que falam
absolutamente nada; entra e sai bloco, nada de consistente é dito.
Então, depois de ler os jornais que trazem alguns
fatos resolvemos fazer nossa própria análise de toda a trama (no sentido de tecido).
Para os leigos na língua do Bardo (ele,
Shakespeare), leaks é
vazamento. Vatileaks, vazamento do Vaticano, ou vaticangate, pode ser também, o caso do Vaticano, como Watergate (Nixon, renúncia, tudo a ver).
O
julgamento do mordomo
Paolo Gabriele servia
as refeições do papa e o ajudava a se vestir. E, além disso, fotocopiou
documentos sigilosos em plena vista de seus superiores imediatos, numa pequena
sala de trabalho adjacente aos aposentos residenciais do papa no Palácio
Apostólico.
Em
seguida escondeu mais de mil cópias e documentos originais, incluindo alguns
que o papa tinha marcado “a serem destruídos”, entre muitos milhares de outros
papéis e recortes antigos de jornal num grande guarda-roupa em seu apartamento.
Os
documentos que deixou vazar desencadearam uma das maiores crises do pontificado
de Bento, constrangendo o Vaticano no momento em que ele se esforça para
superar uma sequência de escândalos de abuso infantil envolvendo clérigos, além
de desvios na gestão de seu banco.
Em 23 de maio
passado, a polícia vaticana apreendeu na casa de Gabriele mais de mil
documentos pertencentes à correspondência privada do papa, uma pepita de ouro,
uma edição ilustrada da "Eneida" de Annibal Caro, de 1581, e um
cheque de 100 mil euros que José Luis Mendoza, presidente da Universidade
Católica de San Antonio de Múrcia havia entregado ao papa durante a última
viagem a Cuba.
O processo foi
super wiki (muito rápido, em havaiano). Abertura num sábado, duas audiências durante a
semana, e no sábado seguinte conclusões da acusação e da defesa, a última
declaração de Gabriele e o veredicto final.
A condenação a toque de caixa
do ex-mordomo do papa deixa no ar a desconfiança de que ele possa ter sido um
joguete numa intriga muito maior no Vaticano, envolvendo disputas internas na
corte papal e alegada corrupção nos escalões mais altos da Igreja Católica.
Antes de se
retirar para deliberar e ditar a sentença, o tribunal deu a Paolo Gabriele a
possibilidade de pronunciar algumas palavras. Disse o mordomo-réu solenemente: "Sinto
dentro de mim a forte convicção de ter agido por exclusivo amor, diria
visceral, pela Igreja de Cristo e por seu chefe visível. Se devo repeti-lo, não
me sinto um ladrão."
O mordomo chegou a
dizer que atuou sob os influxos do Espírito Santo e que sua única intenção ao
vazar os documentos foi ajudar o papa e a igreja a fazer limpeza. "Observando
o mal e a corrupção, decidi agir", explicou. "Dava-me a impressão de
que o papa não estava informado. Eu era o laico mais próximo dele. Sentando-me
a sua mesa, cheguei à convicção de como é fácil manipular uma pessoa com tanto
poder de decisão. Às vezes o papa fazia perguntas sobre coisas das quais
deveria estar informado."
A sentença exemplar de Gabriele:
condenação a três anos de prisão por roubar os documentos papais, abusando da
confiança depositada nele, mas que em virtude da ausência de antecedentes, dos
seis anos anteriores de atuação correta e seu convencimento subjetivo -
"embora errôneo" - de estar ajudando a Igreja, a pena ficava reduzida
a um ano e meio de prisão e ao pagamento das custas.
Alguns minutos
depois, visivelmente satisfeito, o padre Federico Lombardi, porta-voz do
Vaticano, se felicitava pela rapidez do processo e anunciava a possibilidade
"muito concreta e verossímil" de que nos próximos dias Bento 16
conceda o perdão a seu mordomo infiel. Uno
felice finale. Acompanhem:
Marco
Politi, autor de vários livros sobre o Vaticano, escreveu que os procedimentos
da corte pareciam “um roteiro em que cada um está representando seu papel”: uma
acusação firme, mas benevolente, uma defesa morna e a perspectiva de um perdão
papal
O jornal da Santa
Sé, "L'Osservatore Romano", definir o papa como "um pastor cercado
de lobos".
Um intelectual refinado
Ratzinger, um intelectual, exímio pianista, ferrenho inquisidor e chefe da Congregação
para a Doutrina da Fé (uma versão moderna do Tribunal do Santo Ofício, a
Inquisição), que impôs o silencio obsequioso aos religiosos dissidentes da
cartilha, está agora idoso, doente e dizem, cercado de lobos. A Igreja
atravessando um escândalo atrás do outro envolvendo denúncias de pedofilia em
todo o mundo. E no Vaticano denúncias de sexo, desvios de dinheiro e corrupção.
As imagens televisivas são de um homem vergado e trêmulo que mal consegue andar, a voz um fiapo. Tamanha fragilidade não o impediu de encontrar literalmente uma saída, a renúncia. Com uma só carimbada do selo papal resolveu vários problemas e foi, sereno, dizem, refugiar-se na residência de verão e acompanhar pela televisão as consequências do seu insólito ato. Dizem até que tocou piano ao chegar. Duvidamos, tamanha fragilidade física o impediria de tocar até o “bife” (peça para piano muito simples e popularizada, coisas de antigamente).
O Vaticanleaks convenientemente expôs as vísceras do
Vaticano e a berlinda em que se encontrava Bento XVI. Julga-se o mordomo Paolo,
o larápio que só queria ajudar Sua Santidade e a Igreja. Paolo recebe o perdão
papal. Bento XI renuncia devido à idade e doença e para o bem da Igreja e
recolhe-se para apreciar pela tv o circo pegar fogo, digo, a movimentação das
facções na Cúria Romana, digo, a administração dos escândalos sexuais e monetários. Pedro descalçaria as sandálias e desceria do trono se
apreciasse o quadro. E isso vem desde que a Igreja é Igreja. Não foi à toa que
Calvino e Lutero se rebelaram.
Não há dúvida, Ratzinger, mesmo velho e doente,
é um intelectual refinado, um estrategista de mão cheia. Depois do xeque-mate,
não passa uma semana sem que caia mais uma cidadela dentro do Vaticano, uma
peça depois da outra em efeito dominó.
Na semana
passada o cardeal católico Keith
O'Brien renunciou como arcebispo de St. Andrews e Edimburgo após ter sido
acusado de "comportamento inadequado" contra outros religiosos na
década de 80 - admitiu que sua conduta sexual foi por vezes “abaixo dos padrões
esperados”. Em um comunicado, ele pede perdão àqueles que possa ter
"ofendido" e também desculpas à Igreja Católica e ao povo da Escócia.
O anúncio da saída do cardeal ocorreu depois do vazamento da informação no domingo de que três sacerdotes e um ex-sacerdote se queixaram diante do pontificado da "conduta imprópria" de O'Brien. A renúncia foi aceita por Bento XVI. O'Brien, de 74 anos, era o membro mais velho da Igreja Católica na Grã-Bretanha e seria o único representante britânico no conclave para escolher o novo papa após a renúncia de Bento XVI. (Veja, 3//2013).
O anúncio da saída do cardeal ocorreu depois do vazamento da informação no domingo de que três sacerdotes e um ex-sacerdote se queixaram diante do pontificado da "conduta imprópria" de O'Brien. A renúncia foi aceita por Bento XVI. O'Brien, de 74 anos, era o membro mais velho da Igreja Católica na Grã-Bretanha e seria o único representante britânico no conclave para escolher o novo papa após a renúncia de Bento XVI. (Veja, 3//2013).
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