Precisamos falar urgentemente do fórum de Contagem das Abóboras/MG (primeiro nome da Comarca). É feio pra caramba, digo, não atende aos requisitos mínimos da Estética. Até destoa da nobre função (patacoada) de julgar. Ora, um lugar para as partes se encontrarem e digladiarem à vontade, deve ter no mínimo, alguma lembrança de um circo romano, uma coluna bonita, uma parede de pedra bruta, um vidro chique como tem o tribunal da Raja Gabaglia (avenida, para os leitores de fora). Aquele ar de repartição pública do interior, naquele sol de quarta-feira, convenhamos, não ajuda ninguém. Como dizia o filósofo Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual, pobre gosta é de luxo. E pobre é o que mais havia lá na quarta-feira passada.
Não parece uma penitenciária?
Não me contive e fui consolar uma mãe com uma filhinha ao colo, a mãe aos prantos na porta da Vara Criminal. Viu o marido passar algemado, ia ser julgado. Para sofrer assim nessa vida, que o fórum seja ao menos, acolhedor.
A testemunha da primeira audiência do dia quis me contar todo seu drama, eu não disse aqui que me contam tudo? Deve ser karma. Pois me disse o moço de capacete de motociclista, testemunha de um processo há doze anos, pasmem, e filosofou: “sou testemunha do óbvio. Querem que eu diga, mas não vou dizer, não vi. É óbvio, mas não vi.” Queria desabafar.
O que fez o advogado que arrolou a testemunha na comarca contígua? Não foi ouvi-la. Beleza. Não foi e o juiz também não quis ouvi-la. Nem eu. A testemunha com um bebê no colo e o marido a tiracolo, naquele calor senegalês. E o advogado nem tchum, não pisou lá. Decerto houve um imprevisto, desses imponderáveis que atrapalham nossa vida para sempre. Só pode ser.
Terminada a oitiva que não aconteceu, peguei de novo o táxi para continuar o périplo. Ah, o motorista estava curioso. Então, dra., tudo bem na audiência? E continuou curioso: Tudo.
Agora rumo ao bairro São João Batista passando pela Lagoa da Pampulha e pelas obras de Oscar Niemeyer, foto para vocês.
Igreja de São Francisco de Assis |
Museu de Arte da Pampulha |
Vamos assinar um contrato, pegar uma promissória, coisas de advogados, num lugar inusitado, a loja onde municiam aqueles carros de som infernais que demolem os ouvidos da burguesia ou os ouvidos de fino trato, como diz o Tutty (radialista emérito de BH, para os de fora). É, filosofamos, o moço dono do negócio está ascendendo embora não saiba sequer cumprimentar e sua fala se resuma a rudimentos. Novos tempos. Nada disso, o dinheiro sempre passou pelo comércio. Mas há algo que não orna aqui, a falta de modos, a ascensão da classe c, a queda da burguesia, a crise brutal, leiam, brutal da advocacia, estes pensamentos foram deixados para rumar no mesmo táxi em direção ao fórum de BH. Chega, não acabou, vamos poupá-los.
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