quinta-feira, 14 de março de 2013

Direto do Fórum de Contagem/MG


Precisamos falar urgentemente do fórum de Contagem das Abóboras/MG (primeiro nome da Comarca). É feio pra caramba, digo, não atende aos requisitos mínimos da Estética. Até destoa da nobre função (patacoada) de julgar. Ora, um lugar para as partes se encontrarem e digladiarem à vontade, deve ter no mínimo, alguma lembrança de um circo romano, uma coluna bonita, uma parede de pedra bruta, um vidro chique como tem o tribunal da Raja Gabaglia (avenida, para os leitores de fora). Aquele ar de repartição pública do interior, naquele sol de quarta-feira, convenhamos, não ajuda ninguém. Como dizia o filósofo Joãozinho Trinta, quem gosta de pobreza é intelectual, pobre gosta é de luxo. E pobre é o que mais havia lá na quarta-feira passada.



Não parece uma penitenciária?

Não me contive e fui consolar uma mãe com uma filhinha ao colo, a mãe aos prantos na porta da Vara Criminal. Viu o marido passar algemado, ia ser julgado. Para sofrer assim nessa vida, que o fórum seja ao menos, acolhedor.

A testemunha da primeira audiência do dia quis me contar todo seu drama, eu não disse aqui que me contam tudo? Deve ser karma. Pois me disse o moço de capacete de motociclista, testemunha de um processo há doze anos,  pasmem, e filosofou: “sou testemunha do óbvio. Querem que eu diga, mas não vou dizer, não vi. É óbvio, mas não vi.” Queria desabafar. 

O que fez o advogado que arrolou a testemunha na comarca contígua? Não foi ouvi-la. Beleza. Não foi e o juiz também não quis ouvi-la. Nem eu. A testemunha com um bebê no colo e o marido a tiracolo, naquele calor senegalês. E o advogado nem tchum, não pisou lá. Decerto houve um imprevisto, desses imponderáveis que atrapalham nossa vida para sempre. Só pode ser.

Terminada a oitiva que não aconteceu, peguei de novo o táxi para continuar o périplo. Ah, o motorista estava curioso. Então, dra., tudo bem na audiência? E continuou curioso: Tudo.

Agora rumo ao bairro São João Batista passando pela Lagoa da Pampulha e pelas obras de Oscar Niemeyer, foto para vocês.
Igreja de São Francisco de Assis
Museu de Arte da Pampulha




Vamos assinar um contrato, pegar uma promissória, coisas de advogados, num lugar inusitado, a loja onde municiam aqueles carros de som infernais que demolem os ouvidos da burguesia ou os ouvidos de fino trato, como diz o Tutty (radialista emérito de BH, para os de fora). É, filosofamos, o moço dono do negócio está ascendendo embora não saiba sequer cumprimentar e sua fala se resuma a rudimentos. Novos tempos. Nada disso, o dinheiro sempre passou pelo comércio. Mas há algo que não orna aqui, a falta de modos, a ascensão da classe c, a queda da burguesia, a crise brutal, leiam, brutal da advocacia, estes pensamentos foram deixados para rumar no mesmo táxi em direção ao fórum de BH. Chega, não acabou, vamos poupá-los.

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