segunda-feira, 11 de março de 2013

A advocacia como negócio

Nada como um sábado de sol para perder algumas ilusões. Vieram buscar lenitivo? Não tem. É para poucos. É preciso ter estômago. Os mais sensíveis não suportam ser bucha de canhão muito tempo, pedem pra sair. Afinal, há muitos lá fora querendo entrar e emprestar, bem baratinho, sua força de trabalho para essa engrenagem, que avisamos: mói do verbo moer.

 Mói os miolos, as vísceras, a pessoa toda. Depois o bagaço é cuspido ou se cospe da engrenagem. Perdoem a imagem forte mas procede. Já viram uma máquina arcaica de moer cana para tirar o caldo? A imagem é perfeita. Devidamente moidos os coitadinhos, digo, a força de trabalho, sai aquele caldo grosso da cana, digo, honorários caudalosos para os donos do negócio. Nada contra o capitalismo. Constrói impérios e a patuléia tem cestas básicas, água encanada, ônibus lotado e esgoto.

Mas a dominação está muito antiga no campo da advocacia. Medievais, diria, os feitores, digo, os coordenadores de área, precisam se atualizar em matéria de tortura, digo, gestão de pessoas. Tsc, tsc, tsc, muito atrasados. Há formas mais modernas, bacanas e leves de dominar, digo, de administrar pessoas.

Escreveu Keynes na Depressão dos anos 30: "é melhor que o homem possa tiranizar seu saldo bancário do que seus concidadãos". Ouvi coisas escabrosas em matéria de tirania em escritórios de advocacia. E vocês, já ouviram?

Dominados, em especial, mulheres dominadas, acordem! Tenham pelo menos consciência da dominação, que são a parte mais numerosa, menos nobre e mais utilizada dessa máquina chamada advocacia como negócio.

Não, o emblema bonito, quase um brasão de armas, a logomarca trabalhada, a placa de vidro, as linhas arquitetônicas, feitas todas para impressionar, pasmem, isso não me impressiona.

Não hoje, um sábado de sol, bato a sandália catrumana (sertaneja) na soleira, com vestido florido, é sábado, lembram? Vejo além dos símbolos, vejo os feridos também. Aí me perguntam, como você sabe disso? As pessoas vêm me contar coisas, não preciso por o pé na rua, neste ponto sinto-me um pouco a Miss Marple de Agatha Christie.  Não é curioso? Esta anotado.


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