Abuso de poder, que
rufem os tambores
A Cemig, concessionária de energia de Minas Gerais, e um membro do
Ministério Público mineiro estão envolvidos em um processo judicial que
“desafia os mais elementares conceitos do Estado Democrático de Direito”. A
definição é do juiz Geraldo Claret de Arantes, em sentença da 1ª Vara de
Fazenda Estadual do Tribunal de Justiça de Minas Gerais, na qual condena a
empresa a pagar R$ 97 mil de indenização por danos morais ao dono de um
restaurante de Belo Horizonte, que foi "perseguido" por um promotor,
com ajuda da Cemig.
Segundo a decisão, a concessionária, para atender a um pedido do
promotor de Justiça Luiz Eduardo Telles Benzi, determinou o corte no
fornecimento de energia do bar e restaurante chamado Canjão. Foram dez
interrupções entre setembro e dezembro de 2010. O problema é que não foi
comprovada qualquer irregularidade do estabelecimento.
Em uma das vezes, a Cemig chegou a ordenar a retirada do medidor de
energia, mesmo depois do prestador de serviço — terceirizado — informar que não
havia problema com o aparelho. Uma testemunha contou ter visto, nesse dia, um
documento do gabinete da presidência da Cemig onde era possível ler a seguinte
recomendação: “priorizar o pedido de Luiz Eduardo”.
A própria concessionária reconheceu ter agido em atendimento “a uma
pessoa chamada Eduardo”. Já as testemunhas apresentadas pelo autor da ação
informaram — “sem qualquer contradição ou relutância”, na avaliação do juiz —
que o promotor de Justiça Luiz Eduardo era cliente do restaurante Canjão e
estaria usando a influência de seu cargo para prejudicar o dono e gerente do
local, Carlos Barboza Marins.
“A ré se pôs à disposição de um promotor de Justiça, fora de suas
atribuições e como cidadão comum, que, em tendo rixa pessoal com o autor da
demanda, acionou os ´serviços´ da requerida para promover implacável
perseguição”, concluiu o juiz Geraldo de Arantes, para quem o processo
"pouco tem a ver com dívida de energia elétrica".
Na sentença, Arantes manda oficiar a Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) e o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para que
seja analisada a “conduta da ré”. No entanto, passados três meses da publicação
no Diário Oficial do TJ-MG da sentença número 1955381-56.2011.8.13.0024,
a Aneel e o CNMP informaram ainda não terem sido notificados.
Procurado pela revista Consultor Jurídico, o promotor Luiz
Eduardo Benzi, titular da Promotoria da Vara de Registros Públicos da capital
mineira, admitiu conhecer o caso. “Se houve pedido de desligamento é porque
havia irregularidade de fato. Tanto é que a Cemig foi lá, notificou, retirou o
medidor." O promotor negou ser frequentador do restaurante, mas admitiu
conhecê-lo — após ouvir o repórter dizer o nome do estabelecimento.
Questionado sobre a suposta perseguição ao dono do Canjão, novamente
negou. “Eu não fiz pressão nenhuma. Não posso forçar a Cemig a fazer nada.” O
promotor questiona sua participação no caso: “Eu não apareço no processo
como parte, apareço?”
O juiz titular da 1ª Vara Estadual de Minas Gerais qualificou o caso de
“estarrecedor”, por ter ocorrido "24 anos depois da democratização do
Brasil, com o advento da Constituição Federal de 1988, com o fim dos atos
ditatoriais, especialmente de detentores de serviços públicos, cujo retorno não
se pode admitir”. (Fonte: Marcelo Pinto, Conjur, 15/3/2013)
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Comentário do Blog: Ufa! Estamos mesmo vivendo num Estado Democrático de Direito. Que alívio. Às vezes bate uma certa dúvida. Ótima notícia para fechar a semana intensa. Até um Papa foi eleito. Tenho um pequeno acréscimo à notícia, uma pequena nota de pé de página, um fato ilustrativo. Há alguns anos advoguei num processo de retificação de nome na vara do promotor da notícia. O casal era gente simples, pedimos justiça gratuita, logo sentimos o peso do carimbo verde (o representante do Parquet carimbava seu sobrenome na cor verde nas suas opiniões, assim: tááá; sentiram?). Nada disso, opinou o MP: ou pagam as custas ou vou instaurar ação penal, e carimbou. E foi contra o pedido. Insistimos e o MM. Juiz despachava: fale o promotor, fale a parte, e ficávamos digladiando sobre patronímico e peculiaridades sobre nome, sobrenome, apelido. E sempre aquele carimbo verde, em maiúsculas. A sentença: acolheu o parecer. Pais: muito cuidado na hora de escolher o nome da criança, principalmente se frequentam cultos alternativos. Pelo aperitivo vê-se que a causa era interessante.
Por essas coisas da vida, conheci a mãe do Sr. Promotor, fina senhora carioca, adivinhei pelo sobrenome que declinou ao apresentar-se. Convidou-me para um chá, nunca apareci. Essa vida corrida.
Comentário do Blog: Ufa! Estamos mesmo vivendo num Estado Democrático de Direito. Que alívio. Às vezes bate uma certa dúvida. Ótima notícia para fechar a semana intensa. Até um Papa foi eleito. Tenho um pequeno acréscimo à notícia, uma pequena nota de pé de página, um fato ilustrativo. Há alguns anos advoguei num processo de retificação de nome na vara do promotor da notícia. O casal era gente simples, pedimos justiça gratuita, logo sentimos o peso do carimbo verde (o representante do Parquet carimbava seu sobrenome na cor verde nas suas opiniões, assim: tááá; sentiram?). Nada disso, opinou o MP: ou pagam as custas ou vou instaurar ação penal, e carimbou. E foi contra o pedido. Insistimos e o MM. Juiz despachava: fale o promotor, fale a parte, e ficávamos digladiando sobre patronímico e peculiaridades sobre nome, sobrenome, apelido. E sempre aquele carimbo verde, em maiúsculas. A sentença: acolheu o parecer. Pais: muito cuidado na hora de escolher o nome da criança, principalmente se frequentam cultos alternativos. Pelo aperitivo vê-se que a causa era interessante.
Por essas coisas da vida, conheci a mãe do Sr. Promotor, fina senhora carioca, adivinhei pelo sobrenome que declinou ao apresentar-se. Convidou-me para um chá, nunca apareci. Essa vida corrida.
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