quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Shakespeare no TJMG


Oh, happy day

Mais um “Oh, happy day” no Tribunal de Justiça, ontem. Revirada (mantenha, revisor), mais uma sentença. De fato esperei mais de três horas para falar. Pensam que me importei com a espera? Nada disso. É o momento de ver como os colegas e os magistrados trabalham. E de ver como as pessoas existem, é um exercício de aprendizado das pessoas, além do Direito que compulsoriamente vamos ouvindo. De novo vou falar: havia só quatro mulheres na sessão, comigo, de resto, só homens magistrados e advogados, muitos. Havia quatro servidoras muito atentas às sustentações orais.

O bardo

Eis que o bardo inglês adentra ao plenário, sim, ele, Shakespeare (calma, gente, é só metáfora). Desenrola-se na tribuna a peça O Mercador de Veneza. Coisas de agiotagem. Pelo Shylock mineiro, digo, pelo apelante, um dos príncipes do foro (não direi, não direi, ele se reconhecerá se calhar de ler o Blog), pela vítima, digo, pelo apelado, convicto advogado entrado em anos, mas firme. Disse o advogado: o nonagenário foi sangrado. Shakespeare puro, a libra de carne de Antônio, a simbologia do sangramento.

A libra de carne que eu pretendo
Comprei-a bem cara, é minha e quero tel-a;
Se m’a recusaes, ai das vossas leis!
O direito de Veneza então está sem força.
... Eu invoco a lei;
... A meu favor está no meu título. (O Mercador de Veneza, William Shakespeare).

E não acabou aí. Não é que o advogado do agiota, digo, do apelante invocou a lei, tal qual Shylock?  Nada de anular os títulos, basta tirar os juros excessivos, segundo a lei tal e qual.

Impressionante. A vida imita a arte. O relator já falou e enquadrou o apelante, o revisor pediu vista. Já adivinho o resultado. Creio que o Shylock moderno não terá sequer o principal.

O que ficou da tarde no tribunal, o *leitmotiv de todas as causas ali discutidas: l’argent, din din, pecúnia, basta ver as causas do dia: minha cliente necessitada da assistência judiciária, o nonagenário endividado, o valor do aluguel da pizzaria, os dividendos dos acionistas. Não é à toa que dizem que é a mola que move o mundo. É como dizem os americanos: não existe almoço grátis.

*Leitmotiv: palavra alemã que significa o motivo condutor ou principal. Não é que este Blog está chique, demais?

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