Sim, é verdade,
a dona do Blog ausentou-se da redação e sumiu no cerrado. Na volta confessou
que a supressão de tecnologia durante alguns dias é extremamente salutar. E
relutou em reabrir a caixa de e-mails, ah, a tecnologia sedutora e que aprisiona.
Salutar também foi saber que deixou saudade, nos reclamos de preclaro leitor pela ausência e do
rumo tomado pelo Blog na volta, nada de
sertão, volte incontinenti à Ação Penal 470 que o trem está pegando fogo.
Sim, sim, não
saímos completamente do ar. No sertão também tem Globonews e acompanhamos a irritação de Barbosa com os rumos do
voto de Lewandowsky. A importância exagerada que a jornalista Catanhêde deu ao
comentário do revisor sobre julgamento pouco ortodoxo.
Ora, dizemos nós, afinal,
não é todo dia que se julga tão grande número de indiciados em tão sofisticada
engenharia financeira, política e marqueteira em cadeia nacional. Alguma heterodoxia
há de ter.
Mas o que
desagradou sobremaneira foi o rompante do Relator (são as dores, com certeza). Deixa o revisor votar como lhe aprouver,
conversava eu com o televisor. Ainda que o
voto nos cause espanto e desperte outros tantos pensamentos ...
Que espetáculo
para as massas. Mentira, as massas não querem saber, acham, e com razão,
enfadonho demais o julgamento, juridiquês demais, empolação demais. Estão mais
interessadas nos jogos do campeonato que corre por aí e nas ensurdecedoras
duplas sertanejas universitárias (um verdadeiro show de horror para ouvidos
sensíveis e entre eles alguma massa cinzenta mediamente desenvolvida). Perdoem, perdoem a franqueza excessiva, às
vezes me escapa.
Chamada ao prumo pelo seu mais fiel e
aguerrido Leitor, a redatora não se faz de rogada e apresenta o dever de casa,
não fará como o revel que recebe o processo no estado em que se encontra e toca o
bonde em frente. Nem seguirá a cartilha administrativa de Jayme Lerner (ex-prefeito
de Curitiba para quem não se lembra), e segundo a qual, não se administra para
trás, em suma, o que passou, passou. Aqui não.
Já estamos há um mês e meio de julgamento
do mensalão, nesse meio tempo o Supremo condenou 10 dos 37 réus e
inocentou outros três. De acordo com os ministros do Supremo, ficou comprovado
um esquema de desvios de recursos públicos da Câmara dos Deputados e do Banco
do Brasil, além de operações junto ao Banco Rural para ocultar a destinação de
dezenas de milhões de reais, provenientes de empréstimos fictícios e fraudulentos.
Relembrar é viver
6 de setembro
O STF terminou de analisar o capítulo 5
da denúncia e condenou três diretores do Banco Rural por gestão fraudulenta de
instituição financeira. Kátia Rabello e José Roberto Salgado foram condenados
por unanimidade. Os ministros Ricardo Lewandowski e Marco Aurélio Mello votaram
pela absolvição de Vinícius Samarane. O relator, Joaquim Barbosa, foi o único a
votar pela condenação de Ayanna.
10 de setembro
O relator Joaquim Barbosa votou pela
condenação de nove réus por lavagem de dinheiro. Ele considerou culpados o
empresário Marcos Valério Souza, seus dois ex-sócios, Cristiano Paz e Ramon
Hollerbach, seu advogado, Rogério Tolentino, duas funcionárias do grupo, Simone Reis e Geiza Dias, e
três pessoas do Banco Rural, a sócia Kátia Rabello, o ex-vice-presidente José
Roberto Salgado e o executivo Vinícius Samarane. Barbosa votou pela absolvição
da ex-diretora do Rural Ayanna Tenório.
12 de setembro
O revisor Ricardo Lewandowski condenou
seis réus por lavagem de dinheiro e inocentou quatro. O ministro considerou
culpados a dona do Banco Rural, Kátia Rabello, o ex-vice-presidente do banco
José Roberto Salgado, o empresário Marcos Valério e seus ex-sócios Ramon
Hollerbach e Cristiano Paz, além de Simone Vasconcelos, diretora da agência de
publicidade. Lewandoswski considerou inocentes a ex-diretora do Rural, Ayanna
Tenório, o vice-presidente Vinicius Samarane, Geiza Dias, ex-funcionária de
Valério, e Rogério Tolentino, advogado do empresário.
13 de setembro
O STF concluiu o julgamento da parte
sobre lavagem de dinheiro no mensalão, condenando oito réus e absolvendo dois
pelo crime. Os ministros entenderam que houve desvio de recursos públicos, que
empréstimos foram simulados e que a origem da verba foi omitida. Os ministros
consideram culpados por lavagem Kátia Rabello, José Roberto Salgado, Vinicius
Samarane, Marcos Valério, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, Rogério Tolentino e
Simone Vasconcelos. Os ministros absolveram Ayanna Tenório e Geiza Dias. Ao
todo, 10 dos 37 réus já sofreram algum tipo de condenação. Por outro lado, três
foram absolvidos.
17 de setembro
Joaquim Barbosa começou a analisar parte
da denúncia de que houve compra de apoio político, que envolve o núcleo
político, entre eles o ex-ministro José Dirceu, parlamentares e partidos
políticos. Depois de afirmar que não tem dúvidas de que houve o mensalão
Barbosa indicou entender que houve crimes de corrupção passiva, lavagem de
dinheiro e formação de quadrilha cometidos por três réus do PP, entre eles o
deputado Pedro Henry (PP-MT), e dois sócios da corretora Bônus Banval. (Fonte:
Folha de SP).
Desse período o Blog fica com as frases
pinçadas da criatividade que brota aos borbotões dos ministros e que demonstram
toda a heterodoxia do julgamento:
Ricardo Lewandowski: "Só se lava ou branqueia o que está sujo".
Luiz Fux: "Não
deveria nem ser gestão fraudulenta, deveria ser gestão tenebrosa".
Luiz Fux: "Quem
sofre infarto não manda beijo, quem manda beijo não sofre infarto".
Luiz Fux: "O
dinheiro lícito e o ilícito não são como a água e o óleo, ou seja acabam se
misturando".
Luix Fux: "Era
o beijo da morte que ela [Geiza Dias] dava no final dos e-mails".
Luiz Fux: "É um momento extremamente dramático participar de um processo penal
que resulta em uma condenação".
Dias Toffoli: "Só
conheço uma pessoa condenada por um beijo, foi Jesus Cristo. O fato de mandar
beijo não é motivo para condenar". (Ai, ai, ai).
Dias Toffoli: "Uma
coisa é um frentista que põe o combustível sem saber que aquele combustível
está adulterado. Outra coisa é um frentista que coloca o combustível sabendo
que ele está adulterado. [Geiza Dias] era a frentista do posto de gasolina que
não tinha a menor ideia se o combustível era adulterado ou não". (Depois dizem que é implicância minha).
Cármen Lúcia: "O
dinheiro é para o crime o que o sangue é para a veia. Se não circular com
volume sem obstáculos não temos criminosos como esse".
Cármen Lúcia: "O
crime precisa de dinheiro para sobreviver. Sem ele, se tem a necrose do crime".
Marco Aurélio: "A
cada passo complica-se a situação dos acusados. Diria no jargão carioca, haja
coração ante o fatiamento".
Gilmar Mendes: "Já estou rouco e cansado de ouvir".
Falaram os ministros da mais alta corte do país.
Para fechar com alguma leveza e quiça, elevação, o sempre
poeta
Ayres Britto: "Assim
como o rio é um só rio da nascente à foz, a denúncia é a mesma de ponta a ponta".
Ayres Britto: "O universo e a esperteza humana não têm limites; sobre o primeiro eu tenho
dúvidas", parafraseando Einstein.
Ayres Britto: "Há muito método nessa loucura", citando Shakespeare.
E o
assunto não acaba, ainda houve vazamento, por engano (que fique claro) pela
internet da dosimetria das penas do voto de Barbosa. Retirado o documento do
ar, avisou Barbosa que também as penas podem ser alteradas. Para quem não
acessou o site do STF de sexta à noite à noite de domingo, o Blog conta. Era
assim:
Barbosa
fixou a pena do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza para o crime de
lavagem de dinheiro em 12 anos e sete meses de reclusão, além de 340 dias-multa
(referência adotada pelo Judiciário para definir penas pecuniárias, que tem
valor variável). No caso de Valério, o montante chega a cerca de R$ 850 mil.
Para
a dona do Banco Rural, Kátia Rabello, e para o ex-vice-presidente da
instituição, José Roberto Salgado, o relator votou por dez anos de reclusão.
Para ela, mais cerca de R$ 937 mil em dias-multa. Para ele, R$ 625 mil.
Nos
três casos, Barbosa votou pelo início do cumprimento da pena em regime fechado,
"sendo incabível" a substituição por penas restritivas de direitos.
Além disso, votou pela perda, em favor da União, "dos bens, direitos e
valores objeto do crime".
Agora
é esperar pelas fatias finais.
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