Da mesma forma que assistimos como patos a língua pátria ser achincalhada com neologismos vindos do inglês, os conhecidos vamos estar fazendo, vamos estar enviando... (Dizem que é culpa dos atendentes de telemarketing, na verdade, das empresas multinacionais patroas deles que doutrinam os moços e as moças a falar assim, e eles crentes que estão fazendo bonito, arrasando na cordialidade telefônica).
Tivemos hoje um exercício de realidade daquilo que temos assistido como patos. Quando a advocacia vira um negócio e não um serviço, salvo melhor juízo. O escritório virou empresa e sua página na internet propagandeia o melhor dos mundos para os consumidores em potencial, aliás, clientes. Um mundo edulcorado que não resistiu a três telefonemas. Concluímos depois do exercício de realidade que trata-se, a excelência exalada, de coisa para inglês ver.
É que hoje vale mais a versão do que o fato. A empresa, quer dizer, escritório em questão, lá no sul do país, doutrinou bem sua telefonista que pediu imediatamente o CNPJ da empresa quando dissemos que gostaríamos de falar com o advogado tal, cuja procuração está nos autos aqui na comarca de Belo Horizonte/MG.
Mesmo informada que nós, advogados da empresa tal, parte no processo tal gostaríamos imensamente de falar com o advogado que assinou todos aqueles recursos e impugnações (protelatórios, cá entre nós, cada um deles durou dois anos), tinha a moça, já, seu discurso pronto.
E doutrinada, foi avisando peremptória: "sem CNPJ não localizo no sistema." Ah, sei, redarguimos nós. Tivemos que explicar à cara senhorita que não sabemos o CNPJ do executado, cliente do pujante escritório, que não somos clientes ou consumidores daquele escritório para cumprir tal rigorosa norma de identificação e triagem de casos.
- É indenizatória? - Não, senhora.
- Não estou localizando o nome da empresa no sistema. Sem isso o advogado não vai conseguir saber do que se trata.
- A senhora está me dizendo que o advogado tal, que assinou as petições não sabe do que se trata... Sei...
Misteriosamente a ligação caiu duas vezes, na segunda secretária, treinadíssima também em desviar ligações dos causídicos.
Na terceira tentativa conseguimos finalmente falar com uma estagiária de direito, lá chamada de assistente jurídica, na inovadora nomeclatura adotada pela empresa.
Curiosamente no site da empresa constava pessoalidade, eficiência, cordialidade, tudo que não foi dispensado a uma reles advogada que pretendia tão somente estabelecer uma conversação com o advogado da causa, o mesmo de reiterados e protelatórios recursos.
Anotados os dados, sabemos de antemão que podemos esquecer o assunto, não haverá contato ou retorno, afinal, para que irão agilizar o pagamento das multas e honorários advocatícios sucumbenciais do cliente devedor?
Não há de ser nada, a penhora on line veio para ficar.
Quando a advocacia vira comércio, caem primeiro os advogados, os de dentro da empresa, aliás, escritório e aqueles outros, ex-adversos. Perde a advocacia.
Não deixamos passar em branco e registramos a quem interessar possa, que o atendimento e tratamento dispensados a um advogado por um escritório tido por top (pujante, etc.) esteve abaixo da crítica.
Por curiosidade fomos checar o site da empresa, belíssimo. Há um ditado no sertão de Minas Gerais que diz: por fora bela viola, por dentro pão bolorento.
Mastigado o pão bolorento do dia.