Seguinte: andaram falando da ala popular da advocacia, mal, é
claro. A gente perdoa, mas não esquece. Vai daí que ligaram nossas antenas nos
estilos. Em matéria de kitsch,
brega, as varas do nosso fórum dão de 10 a zero. Flores de plástico, piso paviflex (a imitação de mármore em plástico
vinil). Pude observar isso em vinte minutos de chá de balcão hoje, o que mais
pode uma criatura fazer enquanto espera em pé, de salto? Meditar, rezar? Na
próxima tentarei. De quebra todos nós, os advogados que se acotovelavam no
minúsculo espaço destinado aos advogados, ficamos sabendo em detalhes da vida
doméstica dos servidores atrás das estantes entulhadas de processos.
Conversavam animadamente sem imaginar que havia uma platéia atenta aos
detalhes, alguns picantes, faxina, como eu limpo, como é a cortina da minha
casa, samba nas tardes de domingo, etc, vamos poupá-los das partes mais fortes.
Pensam que acabou? Não, tem mais, em outra
vara onde demos com os costados, havia um clima de feira livre, a atendente do
balcão estava em dia de maus bofes, despachando aos berros: Foi comigo, que qui cê qué?,
despejou sobre o nobre advogado. Mais, ele não pediu. Fulana, tão te
chamando, é com você, berrou para dentro do labirinto de estantes de
processos. É ou não animado?
Mas, tu vais ao fórum? Tu
carregas processo? Tu, que és tão chique. A plêiade de
leitores e seguidores desta página demonstra seu estranhamento. Meus queridos,
os tempos mudaram, o chique é ir ao fórum, debruçar-se sobre os autos volumosos,
saber onde os autos são devolvidos, qual o melhor horário para ir às varas,
batucar naquelas maquininhas que te perguntam: numeração do CNJ ou do TJ?
Enfim, conhecer e participar ativamente de todo o processo, inclusive da
famigerada fila quilométrica da distribuição de ações (aí, não, já é muito amor à
arte).
O
advogado moderno é hands on (mão na massa,
aprendi com o Max Henringer), cibernético. Você só tem a ganhar, nessa batida
aquela conversa com o escrivão sobre os descaminhos processuais pode te acender
luzes e encurtar processos, às vezes, te leva inclusive, até a desistir de
processos. Escrivães, às vezes, leiam de novo, às vezes, sabem mais que juízes
e são modestos a valer. A prática é valiosa.
Nada
de se entocar no gabinete e vangloriar-se: só faço REsp (apelido do recurso
especial, destinado ao STJ) e RE (recurso extraordinário, endereçado ao STF). Coisa
de bacana. Hoje mesmo o ministro RA fez publicar uma decisão de sua lavra,
aposta sobre o brasão do STJ, mandando à secretaria fazer o obséquio de incluir
nosso nome nas futuras intimações, assim declinado por inteiro. Precisava? Não
precisava, bastava dizer a advogada subscritora, foi uma deferência. A
instância assim dita superior tem dessas finuras. Coisas da Corte. Mas vais
perder a animação de feira livre? O nascedouro efervescente das causas que irão
para os tribunais superiores? Nada disso. Pedro Bloch, que era judeu e rico,
dono de revista e rede de tv, dizia que quando a coisa estava feia, ele ia para
a feira livre, via aquela fartura tropical e animação do povo e voltava
confortado e confiante. (Vamos pular a parte da falência da Rede Manchete).
Faça
seu REsp e seu RE, mas vá ao fórum, vá à feira.
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