quinta-feira, 2 de maio de 2013

Fórum em clima de feira livre

Seguinte: andaram falando da ala popular da advocacia, mal, é claro. A gente perdoa, mas não esquece. Vai daí que ligaram nossas antenas nos estilos. Em matéria de kitsch, brega, as varas do nosso fórum dão de 10 a zero. Flores de plástico, piso paviflex (a imitação de mármore em plástico vinil). Pude observar isso em vinte minutos de chá de balcão hoje, o que mais pode uma criatura fazer enquanto espera em pé, de salto? Meditar, rezar? Na próxima tentarei. De quebra todos nós, os advogados que se acotovelavam no minúsculo espaço destinado aos advogados, ficamos sabendo em detalhes da vida doméstica dos servidores atrás das estantes entulhadas de processos. Conversavam animadamente sem imaginar que havia uma platéia atenta aos detalhes, alguns picantes, faxina, como eu limpo, como é a cortina da minha casa, samba nas tardes de domingo, etc, vamos poupá-los das partes mais fortes.

Pensam que acabou? Não, tem mais, em outra vara onde demos com os costados, havia um clima de feira livre, a atendente do balcão estava em dia de maus bofes, despachando aos berros: Foi comigo, que qui cê qué?, despejou sobre o nobre advogado. Mais, ele não pediu. Fulana, tão te chamando, é com você, berrou para dentro do labirinto de estantes de processos. É ou não animado?

Mas, tu vais ao fórum? Tu carregas processo? Tu, que és tão chique. A plêiade de leitores e seguidores desta página demonstra seu estranhamento. Meus queridos, os tempos mudaram, o chique é ir ao fórum, debruçar-se sobre os autos volumosos, saber onde os autos são devolvidos, qual o melhor horário para ir às varas, batucar naquelas maquininhas que te perguntam: numeração do CNJ ou do TJ? Enfim, conhecer e participar ativamente de todo o processo, inclusive da famigerada fila quilométrica da distribuição de ações (aí, não, já é muito amor à arte).

O advogado moderno é hands on (mão na massa, aprendi com o Max Henringer), cibernético. Você só tem a ganhar, nessa batida aquela conversa com o escrivão sobre os descaminhos processuais pode te acender luzes e encurtar processos, às vezes, te leva inclusive, até a desistir de processos. Escrivães, às vezes, leiam de novo, às vezes, sabem mais que juízes e são modestos a valer. A prática é valiosa.

Nada de se entocar no gabinete e vangloriar-se: só faço REsp (apelido do recurso especial, destinado ao STJ) e RE (recurso extraordinário, endereçado ao STF). Coisa de bacana. Hoje mesmo o ministro RA fez publicar uma decisão de sua lavra, aposta sobre o brasão do STJ, mandando à secretaria fazer o obséquio de incluir nosso nome nas futuras intimações, assim declinado por inteiro. Precisava? Não precisava, bastava dizer a advogada subscritora, foi uma deferência. A instância assim dita superior tem dessas finuras. Coisas da Corte. Mas vais perder a animação de feira livre? O nascedouro efervescente das causas que irão para os tribunais superiores? Nada disso. Pedro Bloch, que era judeu e rico, dono de revista e rede de tv, dizia que quando a coisa estava feia, ele ia para a feira livre, via aquela fartura tropical e animação do povo e voltava confortado e confiante. (Vamos pular a parte da falência da Rede Manchete).
Faça seu REsp e seu RE, mas vá ao fórum, vá à feira.

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