quarta-feira, 8 de maio de 2013

Tem que ter dinheiro no bolso



Frases lapidares são um perigo. Porque bolem com o sujeito. O último que me disse uma frase assim inesquecível motivou um processo contra a empresa dele que ganhei em duas instâncias, com o dinheiro no bolso comprei o primeiro carrinho. Esta história é ótima. A frase foi “Tudo é marketing”. Vejam só como são perigosas as frases lapidares.


Mas o motivo de ter com os amados leitores hoje é outro, estive ontem entre dois mundos, o mundo do tribunal, aquela elegância, aquele solo de cello sob o lustre de cristal legítimo e o batidão funk do fórum, tá dominado. Seguinte: não “tá dominado”, não mesmo.


Depois que você deixa a bagunça da Rua Goiás e passa seu crachá (sim, finalmente ficou pronto, estou livre das recepcionistas emburradas) na catraca, a plaquinha na escada modesta indica “Palácio da Justiça”. Pronto. 


Lá, somos os advogados tratados como príncipes. O Oficial da sessão ao nosso aceno de longe, não se conforma, e vem pressuroso e sorridente estender-nos a mão, cavalheiro. O colega que acabamos de conhecer na bancada dos advogados, diante da bagunça do café que acabamos de derramar sobre as pautas, conta um caso acontecido com ele em São Paulo. Processo adiado para recompor a turma dos infringentes. Ótimo, mais tempo para afiar o machado. Ao despedirmos, o colega recém-conhecido levanta-se da cadeira, educado. Não é o melhor dos mundos?


Corte. Toca para o Barro Preto. Três varas visitadas, balcões lotados de advogados que reclamam, da profissão, da morosidade dos processos, da vida, tudo, enfim. Ontem parecia a bolsa de valores, prefiro a feira livre. Questão de gosto. Também, quem mandou ir fora dos melhores horários? Resultado, um alvará na mão, fila no Banco do Brasil, estão com um sistema novo e funcionários eficientes, se quer fugir da fila sentada, é boa alternativa.


Perde-se muito tempo no fórum, fiquei sabendo que existe um tempo morto no processo. Há o tempo cronológico, o tempo procedimental, subtraído um do outro, teremos o tempo morto. Vejam como uma simples pós (graduação) pode melhorar uma pessoa. Tarefa de gestão. É o que está faltando. Chamem os administradores, os eficientes, é claro, os gestores. A bola é deles. O novo código de processo não resolverá isso. Anotem, não resolverá isso.


Vi ontem os advogados amontoados como gado no balcão, imagem forte. Está visto que o sistema não funciona. Tempo, já dizia Benjamin Franklin, no tempo da experiência com a chave, a pipa, a eletricidade, essas coisas, que time is money. (Tempo é dinheiro). Era Benjamin um argentário? Creio que não, mas um homem visionário como ele anteviu que o tempo seria um dos bens mais valorizados e por isso mesmo, escasso no futuro.


Pronto, feita a ligação com o título. Mas tem mais coisa aí. E virá. Podem ter certeza. Frases lapidares bolem com o sujeito.


4 comentários:

  1. Dr.ª Valéria,
    Não sei se os nossos colegais mais novos conhhecem, mas ao ver a imagem do venerando Santo Ivo, lembrei-me de um antigo mote, para tentar infernizar a vida dos causídicos.

    Sanctus Ivus erat britus,
    Advocatus, sed non latro.
    Res miranda populo!

    Para os que não tiveram a felicidade de estudar a língua latina, segue a tradução:

    Santo Ivo era bretão,
    Advogado,mas não ladrão.
    Coisa de ser admirada pelo povo!

    Aproveitando o ensejo, gosto, também, de relembrar o dito de um velho e excelente advogado, Dr. Francisquinho Pereira (pai do ex-deputado Hélio Pereira), militante em Conselheiro Lafaiete:

    "Que Deus desavenha quem nos mantenha!

    Abraços do Helvécio, velho amigo do Lota, seu digno e querido pai.

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  2. Caríssimo Dr. Helvécio, que alegria e que honra tê-lo como leitor.
    Ouvi a frase sem referência a Santo Ivo em sala de aula na faculdade de Direito, o professor Sacha Calmon ilustrou os alunos: "advocatus et non latro, res miranda populo", como um ditado popular. Ficamos todos um pouco revoltados com tal fama. Grata por municiar-nos com fatos, pessoas e frases da advocacia. Está secundada, apoiada e acolhida a frase do homônimo do meu pai, que tenho certeza ficará feliz e honrado como eu, pela lembrança do seu nome. Por falar em frases, um brado seu à porta da OABMG na recente eleição veio parar neste Blog. Confira. grande abraço, Dr. Helvécio e volte sempre, precisamos do seu arsenal.

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  3. Valéria,
    Seu artigo de ontem ("Tem que ter dinheiro no bolso"), trouxe-me à memória uma lição dos antigos advogados, segundo os quais, as três qualidades de um bom demandista são: "Bico calado, pé ligeiro e bolsa aberta". Você concorda com esse posicionamento? Helvécio Chaves

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    1. Dr. Helvécio, o sr. me colocando em situação difícil! Este tipo está cada vez mais raro, creio até que ainda não tive a honra. O que mais acontece é aquela constrangedora negociação de honorários. Grande abraço, Valéria Veloso.

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