Dia de ir ao tribunal, às Câmaras de Direito Privado. Do saguão escutamos aplausos no plenário e fomos checar. Advogados amontoados na porta. Qual o motivo dos aplausos? perguntamos a um advogado que está sempre nos eventos políticos. "Ah, é o desembargador tal que está se aposentando." "Que bom" - foi inevitável. Nosso interlocutor nada entendeu e julgou que estávamos cumprimentando-o com um "tudo bom"? E respondeu logo: "tudo ótimo". A fila do beija-mão para as despedidas já se formava do outro lado do cancelo. Talvez estejam perplexos nossos fidalgos leitores com a malvadeza do dia. É só aparência. O motivo da deslavada franqueza é que juízes que destratam advogados não deixam qualquer saudade. Advogados também não esquecem. Tenha uma excelente aposentadoria. É possível até, que passada a quarentena apareça do lado de cá como advogado. Pena que não sentirá na pele todas as agruras da profissão. Sabemos todos que desembargadores aposentados que passam a advogar continuam de camarote enquanto nosotros sambamos na pista.
Dia de fórum, também. Advogados queixam-se uns aos outros, de pé no balcão, enquanto aguardam atendimento. Como o chá de balcão é demorado trava-se conhecimento, trocam-se cartões e experiências. Todos têm uma história recente para contar sobre a morosidade, o despreparo de servidores, etc. Mas hoje houve variação, foi propaganda no rádio de advogados. Todo mundo sabe que o Estatuto e o Código de Ética da profissão proíbem, mas corre solta em rádio AM da capital mineira. Advogados se municiam. O colega ligou o gravador do celular e tocou para todos ouvirem. O locutor diz algo assim: Você sabia que quando morre um familiar é preciso fazer inventário em tantos dias do falecimento? Senão .... Depois vem o anúncia de uma "consultoria", um nome de fantasia, (nome de fantasia não pode, sabe? Só nome dos advogados integrantes da sociedade, está no Estatuto). E um negócio desses no rádio, pode? Tem até depoimento de "cliente" que lucrou "tanto" com ação que o advogado "tal" propôs. Vejam, quanto ele lucrou! berra o locutor.
Não, hoje não estamos indignados. Estamos em olímpico distanciamento. Deixemos para a Comissão de Ética e Disciplina da Secional que certamente está vigilante. Muito embora tenham informado ao colega que gravou os anúncios: os responsáveis pela vigilância não ouvem rádio. Da mesma forma como uma serventuária de cartório informou há duas semanas, se desculpando de equívoco: não sabemos Direito. Temos como certo que, de posse da notitia, agirão prontamente.
Por falar em samba, na noite de segunda-feira fomos brindados com roda de samba de primeira que ecoou pelo relevo acidentado de bairro de Belo Horizonte. Para os de fora: temos bairros com muitas ladeiras, engenheiros e pedestres aqui, sofrem. Por incrível coincidência do nosso bunker foi possível divisar a fonte emanadora da animação de causar inveja. Sabemos por dedução lógica que pertence a magistrado dos mais sérios e operosos. Folgamos em sabê-lo tão animado e tropicalista, como bem disse João Gilberto, quem não gosta de samba, bom sujeito não é, é ruim da cabeça ou doente do pé. São (de sanidade) da cabeça e do pé, necessário dizer que a música cessou à meia-noite, como convém a um cultor das leis.
Parabéns Dra. Muito salutar e realista narrativa. Mas quero falar sobre o samba. Eu, este Advogado aqui, a tempos frequentei BH por diversas ocasiões, e com amigo Juiz daí, pude participar de regabofes no Mercado Municipal da cidade, onde Juízes, Desembargadores, Delegados etc mantinham (soube que não existe mais) uma sala (tipo comercial mesmo) com freezer, fogões, etc e uma cozinheira, ao lado da sala da Rádio Inconfidência onde artistas como Beto Guedes, Milton Nascimento e outros artistas da musica mineiros importantes se apresentavam. Ocasiões muito interessantes. Se acabou mesmo é uma pena.
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