terça-feira, 26 de julho de 2011

TURNING POINT


O blog está sério demais. Avisam-me da cozinha da redação. Não é a proposta. Nossos comentaristas e apoiadores (dois) sugerem mais leveza, talvez um pouco de charme. Em franca homenagem às férias que não tivemos e sob a inspiração do grande Stanislaw Ponte Preta, (pernas para o ar que ninguém é de ferro), inauguramos a coluna Casual Day à moda dos americanos.
O casual day deveria ser na sexta, e será um dia, mas vai na terça mesmo porque este blog também tem Heráclito como inspirador, de certo só a mudança.

Para os menos versados na língua de Bernard Shaw, casual day é o dia instituído pelas empresas modernas e bacanas para os funcionários vestirem-se mais à vontade. Mas não muito, por favor. Talvez devamos inaugurar uma coluna de moda forense, ótima pedida, concordam na cozinha da redação, criou-se verdadeiro alvoroço entre as fashionistas forenses. Vamos colocar em pauta para votação, depois decidirei como de costume, sozinha; afinal, aqui nesta janela e quadrado mando eu. Creio que terei que contratar uma persona para comentarista de moda forense. Oh, céus, mais despesas, nosso administrador já avisou que não concorda e promete abandonar o blog e o barco. Enfim prosseguimos fiéis à cartilha de deslumbramento de Oscar Wilde. E vamos que vamos.

Teremos que criar um glossário para os menos modernos e menos antenados, há aos montes no mundo forense. Enfim, moda é depoimento, já dizia a chique Glória Kalil. Tudo a seu tempo.

Como disse Bernardo Paz, ontem, não, não estive com ele, foi na televisão, beleza (em sentido amplo e superior) traz dignidade. Se não viram, deveriam.

Vamos lá: casual day em pauta, inaugurando:

Click diário: como manda o figurino. Incursão à Justiça do Trabalho, audiência inaugural, cedo, muito cedo.

Encontro o jovem advogado da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária, retomamos o acordo iniciado pelo telefone na tarde anterior. O tema? Impostos (lato sensu), um das centenas que pagamos, nós não, neste caso o cliente, ex-fazendeiro. Ainda, a derrama. Páginas e páginas para explicar a origem do imposto, perdoem-me, a contribuição sindical, relembrando o b a ba do direito tributário: impostos, taxas e contribuições. Diz o cliente no alto dos seus oitenta anos: nunca ouvi falar disso.

Impressão da Justiça do Trabalho: olhem, funciona. A jovem juíza mal nos cumprimentou atrás da pilha de processos, seriíssima ou talvez, (deixemos para lá), continuou assinando e passando folhas de outros autos. Terminada a audiência de cinco minutos somos convidados a nos retirar imediatamente da mesa para passarmos à assinatura, em pé, da ata na mesa lateral.

Fui quase atropelada por uma parte, que já arrastava sua cadeira, nervoso, entraram oito pessoas de uma vez. São 40 varas, me informa a ascensorista, há dois seguranças com rádios que organizam a fila imensa, varas pares e ímpares, cinco elevadores, dois prédios que se comunicam. A Justiça do Trabalho funciona, senhores, pelo menos pareceu-me célere e atarefada. Tão diferente do movimento slow motion do fórum, tempos diferentes, Justiça do Trabalho: andante e presto, Justiça Comum:  l a r g o   e   l a r g h i s s i m o.
















 Até!

Glossário do dia:

Turning Point: ponto de viragem, momento decisivo.
Fashionista: aficcionados da moda (lato sensu).
Casual day: prática surgida no final da década de 70 nos Estados Unidos com o objetivo de diminuir o estresse e otimizar a performance dos trabalhadores, permitindo o uso uma vez por semana, geralmente às sextas-feiras,  de roupas mais descontraídas.
Slow motion: ação em câmera lenta
Largo: andamento musical, 40-60 bpm, largo e severo
Larghissimo: andamento musical, 40-60 bpm, muito largo e severo
Andante: andamento musical, 76-108 bpm, velocidade do andar humano, amável e elegante
Presto: andamento musical, 168-200 bpm, veloz e animado

Citados:




Stanislaw Ponte Preta: codinome de Sérgio Porto, 1923/1968, jornalista e humorista carioca, autor da impagável letra do Samba do Crioulo Doido.









Bernard Shaw: George Bernard Shaw, escritor e jornalista irlandês (1856/1950), irreverente e inconformista.







Oscar Wilde: Oscar Fingal O'Flahertie Wills Wilde, (1854/1900),  escritor irlandês, mestre em criar frases, marcadas por ironia e sarcasmo.

3 comentários:

  1. Parabéns pela crônica, Dra. Valéria! Diverti-me horrores com as inúmeras passagens tragicômicas do seu texto. Nessas horas é que penso: bendito o dia em que resolvi fazer um "turning point" em minha vida e me tornar engenheiro! Saudoso abraço!

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  2. Além de excelente profissional do Direito, ótima cronista, continue nos privilegiando com as suas belas e engraçadas cônicas.Parabéns.

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  3. Olá, Rafael, grata pelo depoimento sobre seu "turning point". Obrigada pelo seu comentário, adorei. Saudoso abraço também. Seja feliz na sua nova carreira.

    Dra. Jô, minha fiel assessora, obrigada, obrigada.

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