(Foto: Yuran
Khan/Bhaz)
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É só um prédio
novo, dirão os céticos. Adaptado, dirão os críticos. Estão todos certos e eu
também. Advogados são dados a essas coisas, emoção, símbolos, etc...
A nova sede
do tribunal é um prédio de 14 andares localizado no alto da Avenida Afonso
Pena, no bairro Serra, região Centro-Sul da capital. No mesmo local funcionava
a sede da operadora de telefonia Oi-Telemar.
Iria falar apenas
das minhas impressões por assim dizer, sensoriais e classistas. Mas o assunto é
complexo, conforme se verá.
Das impressões sensoriais: anda-se, anda-se muito até a entrada do
prédio, o terreno é enorme.
O terreno tem cerca de 15 mil m³ e possui
aproximadamente 55 mil m³ de área construída.
www.em.com.br/app/noticia/politica/2016/06/20/interna_politica,774758/transferencia-do-tribunal-de-justica-sera-concluida-em-dezembro-de-201.shtml
www.em.com.br/app/noticia/politica/2016/06/20/interna_politica,774758/transferencia-do-tribunal-de-justica-sera-concluida-em-dezembro-de-201.shtml
Recomenda-se salto médio, no máximo, para as
advogadas, há ondulações na pista e pedras portuguesas no calçamento.
Desde junho os julgamentos têm sido
realizados na nova sede, em agosto há ainda os sinais evidentes da mudança no
ar, funcionários agitados, ainda não caíram na modorra administrativa,
conversam entre si; técnicos em escadas instalando lâmpadas, fios.
Das impressões classistas: o nosso cartão de
advogado que passa tranquilamente nas catracas do fórum, do antigo prédio do TJ
na Rua Goiás, e também no prédio do TJ da Raja (Gabaglia), não passa lá. E nem
sabem quando e se passará. Sei. Fila para adquirir cartão temporário de
ingresso. A informação foi dada assim com pouca boa vontade pela atendente, como deve ser e convêm (atenção, uso de
ironia), a esses seres insistentes, digo, os advogados. Anotado.
O saguão é um capítulo à parte, do tamanho de
uma praça, o chão liso e polido. Lá longe, muito longe há uns sofás e algumas
pessoas, a essa distância parecem pequenas. Isso! Essa é a intenção
arquitetônica de um prédio destinado inicialmente a abrigar uma estatal, a
extinta Telemig celular.
Aquele espaço todo arrefece o ânimo do mais
obstinado cidadão, que é reduzido de imediato à sua pequenez frente ao
gigantesco Estado brasileiro, no caso, mineiro.
Perfeito para um salão de baile, sim, os
convescotes oficiais deverão ser aqui, é perfeito.
Se o atendimento na portaria não foi dos
melhores, nos cartórios o funcionalismo continua brilhando, diligência e
cortesia, como merecem esses seres persistentes, os advogados. Resolvido num
átimo o problema que afligia o colega do interior do estado.
Nos corredores um silêncio de mosteiro,
ajudado pelo belo carpete por todo o prédio.
R$ 2,4 milhões estão alocados para a
instalação de carpetes.
http://bhaz.com.br/2017/06/21/tjmg-milhoes-predio-sem-propriedade/
Essa calmaria e organização fornecidas aos
jurisdicionados ocorre surpreendentemente enquanto é travada uma longa batalha
judicial pelo domínio desse imponente edifício.
O Tribunal
de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) ocupa, aos poucos, há cerca de 5
anos, um prédio na capital cuja propriedade é questionada judicialmente pela
Agência Nacional de Telecomunicação (Anatel). Em 2012, após um acordo com a
empresa de telefonia e com o decreto 715 assinado pelo então governador de
Minas, Antonio Anastasia, o tribunal conseguiu a liberação do prédio para
instalar sua nova sede. O decreto autorizava a desapropriação do imóvel,
mas a Anatel questiona se o prédio deve ser realmente ocupado pelo
TJMG. Desde então, o tribunal já gastou R$ 70 milhões com obras no local. De acordo com a Lei Orçamentária Anual
(LOA) do Estado, cerca de R$ 26 milhões foram destinados à reforma do imóvel em
2017.
http://bhaz.com.br/2017/06/21/tjmg-milhoes-predio-sem-propriedade/
Impactante, pensarão os leitores não
mineiros. O tribunal está em pleno funcionamento enquanto tramitam as ações
sobre o imóvel.
Para quem tem curiosidade: há o processo de
homologação da desapropriação na Vara da Fazenda Estadual, sentença
homologatória prolatada, cujos autos foram enviados ao juízo federal, por força
do conflito de competência resolvido pelo STJ. Na Vara Federal correram ação
cautelar e declaratória de nulidade propostas pela Anatel, julgadas
improcedentes, hoje em grau de recurso junto ao TRF1. E no caminho da primeira
instância dois agravos de instrumento ao TRF.
O Tribunal de Justiça está confiante.
O TJMG
reconhece que a decisão pode ser mudada no tribunal. Segundo o desembargador
Cássio Salomé, o TJMG já tem estratégias traçadas para possíveis desfechos do
processo. “Se a gente perder na Justiça, nos retiramos do prédio. Mas,
entraremos com um processo solicitando o reembolso de tudo que foi investido
aqui. Podemos pedir também um novo imóvel para nos instalarmos. Caso a gente se
mantenha no imóvel, já existe um projeto em fase embrionária para construir
mais dois prédios nesse mesmo terreno. Estamos tranquilos quanto à nossa
situação. Não temos dúvidas quanto à nossa posição e à nossa legalidade nesse
processo”, conta Salomé. http://bhaz.com.br/2017/06/21/tjmg-milhoes-predio-sem-propriedade/
Será inescapável
lembrar esta batalha judicial toda vez que entrar na fila para pegar o crachá
temporário (até quando?), e passar na roleta em direção aos elevadores e ao
saguão faraônico.
No elevador seguirei pensando: “Agora, (pausa),
(modo mineiro de iniciar frases e pensamentos, equivalentes: anyway e allora), aquela afirmação no site da AGE...,
decididamente não encontrei na sentença do Juiz Federal..., terei que ler tudo
de novo..., e, contrariamente ao entendimento do STJ no conflito de competência..., não é
mesmo interessante isso?
http://www.age.mg.gov.br/comunicacao/banco-de-noticias/2343-age-viabiliza-reforma-de-predio-para-instalacao-de-nova-sede-do-tribunal-de-justica-do-estado-de-minas-gerais
Justiça Comum 2557901-66.2013.8.13.0024
STJ CC 132433 MG 2014/0030206-6
Justiça Federal 0070391-07.2013.4.01.3800
2457-95.2014.4.01.3800
Valéria, como sempre, brilhante na sua análise. Parabéns.
ResponderExcluirÉ sempre bom lê-la Dra. Valéria! Parabéns!
ResponderExcluirA tempo: Alguns colegas de escritório (em Itabira/MG) também a acompanham. Grande abraço!
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