quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Quem anda de rastos como os vermes

Sobre o farolaço de ontem

O farolaço contra a corrupção em Belo Horizonte foi um fracasso. Lamentavelmente. Nosso censo aleatório contabilizou adesão de 30%, 20% para a ala mais severa. Ao contrário das expectativas matutinas foi decaindo ao longo do dia.

Pela manhã estivemos em um escritório chique em bairro nobre, vocês tinham que ver os dândis em seus ternos Hugo Boss com ar blasé, "ah, é hoje, não é mesmo", "é, ouvi algo". Escreveu João de Vasconcellos em 1909, (Aquelles, porém, para quem esta vida se não reduz a uma soffrega negociação de interesses, ...). Não temos preconceito, mas não ligar o tico no teco é demais.

E o povo? Estivemos também no centro nervoso da capital transformado em caos em dezembro, presos no trânsito pudemos constatar que sim, estão todos achando ótima a corrupção na Petrobrás e afins. Nem aí.

Entre um mandado de averbação de divórcio, um recurso especial e a matrícula das crianças na escola (não necessariamente nesta ordem), nossa redatora em chefe fez uma pausa, deu sua contribuição sociológica e concluiu: a forma de protesto foi inadequada. Não atende aos anseios da alma brasileira, houvessem sugerido um apitaço, um buzinaço, a essa altura estaríamos todos surdos. Mas, luzes acesas durante o dia? Europeu demais. civilizado demais. Troquem o marqueteiro. Erro de forma.

Análise sociológica demais, redarguiu a ala rigorosa. Sim, ela existe, e deixou também seu recado: merecemos o que está acontecendo. E tascou Kant: "Quem anda de rastos como os vermes nunca terá direito a queixar-se de que foi calcado aos pés!"

Nada de queixar agora e depois, se nada fizemos ou faremos para estancar este estado de coisas.





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