Nada mais gratificante que começar a semana (passada) redigindo petição com a seguinte frase: " Fulana de Tal, vem em cumprimento de acórdão do Tribunal de Justiça que reformou sentença desse Juízo para julgar procedente o pedido...". (Negritos nossos, aqui na página, óbvio que não faríamos uma rudeza dessa com o Juízo numa petição, é só para chamar a atenção do leitor, notadamente dos leigos). Cá, muito entre nós, é bom ou não é? Gratificante nada, é fabuloso.
Alguns não entendem que alguém se divirta ou deleite com semelhantes coisas. Julgam-nos mal, belicosos, combativos, briguentos. Ativistas, replicamos. Articulados, vigilantes, devolvemos. Querido amigo e leitor sugeriu a mudança do nome do Blog para "De Escudo e Espada" depois de ler nosso desabafo sobre o teor das intimações que os cartórios fazem aos advogados.
Achamos a ideia ótima e vinda de um gênio é de ser respeitada, mas continuaremos com o nome antigo, nada de aumentar uma injusta fama. É questão apenas de ser atento e não se calar. Pensamos até que trata-se de cidadania exercida no último grau.
Ontem por exemplo, participamos compulsoriamente das 18:30h às 23 e tanto de confraternização promovida por um dos melhores desembargadores do nosso Tribunal. Fomos convidados? Não, não jogamos futevôlei. Era confraternização do time que joga religiosamente às segundas-feiras na quadra. Como sabemos disso tudo? Pelo serviço de microfonia potente instalado na festa no alto do morro. Cá embaixo todo o bairro (e adjacências) está sabendo que o valente Piaba ganhou um troféu, uma medalha, alguma coisa.
Incomodou? Um pouco, é verdade. O locutor da festa incomodou muito, não era dos mais elegantes, vamos ser honestos. O samba já foi melhor, o band leader do regional e vocal esforçou-se mas desafinou bastante, embora muito animado. Pudemos acompanhar seu esforço sem qualquer esforço de qualquer cômodo. Há coisa de três anos o conjunto contratado arrasou, creio até que noticiamos aqui, muito bom mesmo. Há uns três anos cremos também que terminou mais cedo e também registramos o fato.
Então, como ainda acreditamos naquela ficção do Estado Democrático de Direito, nos damos (a ousadia para uns), o exercício de cidadania para nós de publicar algo assim. Quem sabe seremos brindados no próximo ano com aquele antigo conjunto, com um serviço de microfonia menos potente e com estas variáveis encaramos com benevolência até às 23h. Sem amplificador pode-se ir até o raiar do dia, mas compartilhando compulsoriamente com a vizinhança convém abreviar o evento.
Advogados também adoram confraternizar e como estão sempre alertas cumprem a por vezes espinhosa missão de não calar. Quem mais teria a ousadia de avisar o magistrado que o técnico de som extrapolou e irradiou a festa por quilômetros? Urge o aviso, até por que, o mestre de cerimônias bradava a chegada de fulano, que tem o cargo tal e ganhou medalha também. Uma questão de privacidade e segurança, que a esta altura já foi para o brejo. Uma prestação de serviço, na verdade.
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