quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Mãe de 57 anos e pai de 70 perdem guarda de bebê na Itália

Criança de um ano e sete meses nasceu após fertilização in vitro com óvulos doados
Gabriella, uma bibliotecária italiana e Luigi De Ambrosis, um aposentado decidiram ter um bebê com óvulos doados após anos tentando uma gravidez.
Em setembro de 2011 perderam a guarda da filha por que a corte de Turim entendeu que eles são velhos demais e não têm condições de criá-la, a menina foi encaminhada para adoção.
O caso vem repercutindo nos meios médicos, jurídicos e bioéticos e traz novamente a questão à tona: quais os limites da maternidade/paternidade a partir das novas tecnologias?
Dizem os juízes: “os pais foram egoístas e narcisistas por ter tido a criança em idade avançada. O casal já havia tentado adotar um bebê mas foi reprovado por causa da idade. Eles nunca pensaram sobre o fato de que a filha poderia ficar órfã muito jovem ou seria forçada a cuidar de seus pais idosos na idade em que os jovens mais precisam de apoio. Essa criança é fruto de uma aplicação distorcida das enormes possibilidades oferecidas pelas novas tecnologias."
Diz a antropóloga: "a tentativa de relacionar gravidez tardia a egoísmo é um valor cristão sobre a reprodução. A certeza do projeto parental é a melhor aposta para o cuidado. Isso não tem idade." (Débora Diniz, professora da Universidade de Brasília e membro da diretoria da Associação Internacional de Bioética)
Dizem os médicos: "20% das mulheres que buscam tratamento têm mais de 40 anos. Os problemas acarretados pela gravidez tardia são sempre discutidos antes do tratamento mas as mulheres são muito imediatistas. Há até um certo egoísmo de não projetar o futuro e viver só pó presente aproveitando os avanços da medicina. Nesses casos é mandatória uma avaliação psicológica do casal". (Artur Dzik, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana). "Apesar dos riscos, se a saúde da mulher estiver em ordem, se o casal puder cuidar da criança, tiver afeto e der instrução, não deve haver restrição. A população hoje pode atingir maior longevidade." (Thomaz Gollop, obstetra da USP).
O fato: o caso italiano teve início no ano passado, quando a bebê tinha um mês. Um vizinho denunciou o casal por, supostamente, ter deixado a filha sozinha no carro por 40 minutos. A mãe diz que estava descarregando o carro com compras e que nunca perdeu a menina de vista. Em outra ocasião outro vizinho chamou a polícia e disse que o casal havia deixado a bebê no carro chorando, para tentar fazê-la dormir. A criança foi recolhida e deixada sob a guarda de uma família autorizada pela Justiça. Os pais foram submetidos a testes psicológicos e psiquiátricos que concluíram que a mãe não estabeleceu vínculos emocionais com a filha. O marido também não teria demonstrado preocupação com o bem estar da filha.
Mais casos à frente: só em set/2011 outros casais mais velhos (elas, 57/58 anos; eles 65 e 70 anos) geraram gêmeos por doação de óvulos. Todos os tratamentos, inclusive o de Gabriella, foram feitos fora da Itália. O país não permite doação de óvulos.
No mundo: Duas indianas de 70 anos já foram mães usando óvulos doados. A espanhola Maria del Carmen Lara, teve gêmeos aos 66 em 2006. Ela morreu três anos após o parto, de câncer. Por vias naturais a inglesa Dawn Brooke ficou grávida e à luz aos 59, em 1997. (Fonte: Folha de São Paulo, 27/out/2011)

Comentário do blog: Ouvi certa vez numa fila de banco, de um rapaz jovem que ficara uma tarde cuidando do sobrinho pequeno: cansa mais que bater marreta.
Há o imperativo da natureza, o chamado à perpetuação da espécie. A maternidade/paternidade responsável exige algum vigor (da juventude, hormônios, instintos), exige certa dose de renúncia (da maturidade), exige vínculo emocional, afeto e cuidados. E ainda assim, não é tarefa fácil.
Contemplo a mãe tardia italiana no jornal, esses longos cabelos tingidos de ruivo e os sinais evidenciados de botox na testa lisa e nas sobrancelhas demasiadamente arqueadas falam de uma tentativa desesperada de congelar a juventude. Uma mulher do nosso tempo.
Disse uma famosa fotógrafa americana, que realizou o sonho de ser mãe aos 52 anos às mulheres: tenham filhos mais jovens.
Diria Nelson Rodrigues: Jovens, envelheçam!
A pequena Viola, filha de Gabriella e De Ambrosis está num lar substituto. SED CONTRA, (um latinório para finalizar): deve haver exemplos bem sucedidos, em tudo há um contrário.
Assim caminhamos. 

2 comentários:

  1. Virgínia Ripari Machado9 de novembro de 2011 às 21:22

    Após ler este artigo, eu que sou mãe e com a graça de Deus tive meus filhos por métodos naturais, fiquei pensando onde chegaremos com tanta audácia. Claro que todos temos o direito de realizar o sonho de sermos mãe/pai, fazer o que for possível para a realização desse sonho, mas me parece que o ser humano está com muito "poder" e esse "poder" está lhe tirando a lucidez, a coerência, o bom-senso. E pra completar, ninguém suporta hoje em dia uma perda, uma derrota, uma frustação... O simples término de uma relação pode acabar em assassinato, em suicídio. Uma traição então, nem se fala... Não que eu seja adepta... A evolução da medicina tem nos dado perspectivas fantásticas, mas não podemos passar por cima de certos princípios básicos. Somos todos iguais perante Deus, com todas as nossas maravilhosas diferenças. E desde que o mundo é mundo elas existem e existirão. A maternidade exige demais, sem pedir muito em troca, "só" a felicidade do filho. Temos que ter saúde, amor, paciência, coerência, justiça e por que não juventude? Melhor ainda...

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  2. Virgínia, obrigada pelo comentário e pelo seu depoimento. Volte sempre ao blog!

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