sexta-feira, 15 de abril de 2011

A Constituição por Piero Calamandrei - Parte I

Trecho do discurso pronunciado por Piero Calamandrei no Salão dos Afrescos da Sociedade Humanitária em 26 de janeiro de 1955 por ocasião da inauguração de um ciclo de sete conferências sobre a Constituição italiana organizado por um grupo de estudantes universitários para ilustrar de modo acessível a todos os princípios morais e jurídicos que fundamentam a nossa vida em sociedade.


Ouça o discurso na voz de Calamandrei na página VÍDEOS neste blog


Però, vedete, la costituzione non è una macchina che una volta messa in moto va avanti da sé. La costituzione è un pezzo di carta: la lascio cadere e non si muove.

Mas, veja, a constituição não é um automóvel que uma vez dada a partida continue por si só. A Constituição é um pedaço de papel, eu o deixo cair e não se move.

Perché si muova bisogna ogni giorno rimetterci dentro il combustibile, bisogna metterci dentro l’impegno, lo spirito, la volontà di mantenere queste promesse, la propria responsabilità.

Para que se mova é necessário todos os dias repor dentro dela o combustível, é necessário preenche-la com o empenho, o espírito, a vontade de manter esta promessa, com a própria responsabilidade.

Per questo una delle offese che si fanno alla costituzione è l’indifferenza alla politica, l’indifferentismo politico che è -non qui, per fortuna, in questo uditorio, ma spesso in larghe categorie di giovani- una malattia dei giovani.

Por isso uma das ofensas que se faz à constituição é a indiferença à política, o indiferentismo político, que não está aqui, felizmente, neste auditório, mas frequentemente está em larga categoria de jovens, uma doença da juventude.

“La politica è una brutta cosa”, “che me ne importa della politica”: quando sento fare questo discorso, mi viene sempre in mente quella vecchia storiellina,, che qualcheduno di voi conoscerà, di quei due emigranti, due contadini, che traversavano l’oceano su un piroscafo traballante.

“A política é uma coisa feia”, “que me importa a política”, quando faço este discurso, me vem sempre à mente aquela velha historinha, que qualquer um de vocês conhece, daqueles dois imigrantes, dois agricultores, que atravessavam o oceano em um navio a vapor.

Uno di questi contadini dormiva nella stiva e l’altro stava sul ponte e si accorgeva che c’era una gran burrasca con delle onde altissime e il piroscafo oscillava: E allora questo contadino impaurito domanda a un marinaio: “Ma siamo in pericolo?”, e questo dice: “Se continua questo mare, il bastimento fra mezz’ora affonda”. Allora lui corre nella stiva svegliare il compagno e dice: “Beppe, Beppe, Beppe, se continua questo mare, il bastimento fra mezz’ora affonda!”. Quello dice: ” Che me ne importa, non è mica mio!”. Questo è l’indifferentisno alla politica.

Um destes agricultores dormia no porão e o outro sobre o convés e avistou uma grande tempestade com ondas altíssimas e o vapor balançava. E então, este agricultor apavorado perguntou a um marinheiro: “Mas, estamos em perigo?”, e este disse: “Se continua este mar, o navio em meia hora afunda.” Então ele correu porão para acordar o companheiro e diz: “Beppe, Beppe, se continua este mar, o navio em meia hora afunda!”. E aquele disse: “O que me importa, não é nada meu!”. Este é o indiferentismo à política.

E’ così bello, è così comodo: la libertà c’è. Si vive in regime di libertà, c’è altre cose da fare che interessarsi alla politica.

É muito belo, é muito cômodo: a liberdade é assim. Se vivemos em um regime de liberdade, há outras coisas a fazer que interessar-se pela política.

E lo so anch’io! Il mondo è così bello, ci sono tante cose belle da vedere, da godere, oltre che occuparsi di politica. La politica non è una piacevole cosa.

Eu também acho. O mundo é muito belo, há tantas coisas belas para se ver, para apreciar, outras, que ocupar-se de política. A política não é uma coisa agradável.

3 comentários:

  1. aristoteles atheniense5 de maio de 2011 às 17:48

    Valeria, o juiz que nao recebe advogado, assim procede com receio de correr o risco daquele vir a conhecer o seu despreparo para o exercicio da funcao judicante. Um juiz conscio de seu valor e seguro em suas decisoes nao se furtara a este encontro com o advogado, pois estara acima de qualquer influencia pessoal. Esta e a minha avaliacao, como filho de juiz que sou.Aristoteles

    ResponderExcluir
  2. Caríssimo Doutor Aristoteles, grata pelo ponderado comentário, é uma honra contar com suas palavras e experiência no meu blog.

    ResponderExcluir
  3. Doutor Aristóteles, como são sábias as suas palavras... É realmente um prazer poder partilhar de tantos conhecimentos e experiências...

    ResponderExcluir

O dia a dia de uma advogada, críticas e elogios aos juízes, notícias, vídeos e fotos do cotidiano forense

Persistência contra jurisprudência majoritária

E nquanto a nossa mais alta corte de justiça, digo, um dos seus integrantes, é tema no Congresso americano lida-se por aqui com as esferas h...