sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Counselling e advogados


Aprendemos uma palavra nova, counselling e investigando o termo verificamos, salvo melhor juízo, que se aplica a situações vividas na prática da advocacia. Não raras vezes vem o cliente com uma questão a ser destrinchada, separada em partes, revirada ao avesso. Não é só analisar mas apontar os caminhos que podem ser seguidos. Geralmente há mais de um.

O cliente está imerso numa questão que representa para ele apenas um problema, um grande problema causador de sofrimento. Que envolve questões complexas, obscuras e incognoscíveis, como geralmente são as questões de direito. 

Neste momento o advogado é convertido em profissional de escuta e muita vez a questão trazida não resultará numa ação judicial a ser imediatamente proposta. O advogado será ouvinte e usando seu conhecimento técnico ajudará o cliente a compreender a situação como um todo. As palavras- chave são ouvir e ajuda.

Em counselling diz-se ajudar a ajudar-se por meio desta relação estabelecida, como entende a  Associação Italiana de Counselling (O significado de Counselling, Paolo Quattrini).

Não de trata de conselho propriamente dito, pois, apontam-se direções mas a decisão é do cliente. 

Além da parte técnica da questão, que demanda o conhecimento jurídico do profissional, há geralmente mais pessoas envolvidas na questão trazida, em conflito declarado ou não. O que requisita do advogado habilidade para indicar caminhos adequados à melhor solução para o caso, que nem sempre é a via judicial.

É interessante observar e o texto referido aponta o fato da redução e esgarçamento dos núcleos familiares como condição do surgimento do counselling. Falta na sociedade moderna alguém próximo que acolha,  ouça e oriente, mas não determine de modo peremptório, faça isto ou aquilo.

Aos profissionais de escuta como psicólogos, psicanalistas, terapeutas vários, coachs, podemos acrescentar os advogados. Temos vivido na prática reiteradas vezes esta situação, o que nos levou à reflexão e investigação do tema.

Ampliando o counselling para as relações profissionais em curso, verificamos que é salutar e benéfico para o cliente de longo tempo (causas intermináveis e complexas) e o advogado, uma reunião de balanço. Fizemos uma hoje, a propósito de um laudo pericial após quatro anos de processo. Boa hora para sentar com os clientes e, além de apresentar o esperado laudo, fazer um apanhado  da questão trazida há anos atrás, o que foi proposto no contrato de prestação de serviços advocatícios, o trabalho que foi feito ao longo dos anos, informar os próximos eventos do processo judicial e, sim, vivenciar com os clientes a enormidade de tempo que dura um processo no Brasil.

É claro que nesse decurso de tempo há arestas a aparar, a demora é imputada sem dó aos advogados e as queixas e cobranças não se fazem esperar. Às vezes, tímida, às vezes, exigente, está demorando demais... De nossa parte, também achamos o mesmo. Daí o proveito desse conselhão com os clientes para, com papéis em número expressivo sobre a mesa, rememorarmos o ponto de partida há tantos anos, em que pé estamos e concluir, irmanados, que estamos no mesmo barco remando para que chegue a bom termo e porto.

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